Muita gente não sabe, mas grande parte das aldeias indígenas Brasil afora possuem uma cadeia própria. Administrada pelo cacique, ela serve para enclausurar e punir quem se desvia dos costumes estabelecidos na tribo.
Aqui no Rio Grande do Sul o costume viceja entre os caingangues, a nação indígena mais numerosa. Conheci uma dessas cadeias em Tenente Portela, tempos atrás. Um cubículo, com grades, montado numa casa e guarnecido por aliados do cacique. Vez que outra o comando na aldeia troca de família, e aí o outrora cacique e seus aliados correm risco de parar no “xadrez” construído por eles mesmos. Isso tem pipocado em conflitos indígenas.
Pois nestes dias pós-pleito começam a surgir notícias de que as cadeias indígenas têm funcionado a pleno. Dois casos me foram relatados por policiais federais. Um deles, em Gramado dos Loureiros, onde as lideranças indígenas teriam colocado no xadrez vários índios após descobrir que eles votaram num candidato que não era o indicado pela chefia. A PF confirmou, mas transferiu o episódio para autoridades estaduais, por entender que não se trata de conflito por terra ou verbas federais e, sim, disputa política interna na tribo. Outro caso, igual a esse, teria ocorrido em Cacique Doble, divisa com Santa Catarina.
Colegas da RBSTV estão apurando um terceiro caso, em São Valério do Sul, próximo às Missões. Vários índios teriam sido espancados e mais de cem, expulsos, após um candidato favorito dos líderes ter perdido a eleição.
É o típico caso de desvirtuamento de uma instituição que, por si só, já é polêmica, a cadeia própria dos indígenas. Criada para conter desordeiros ou abusadores enquanto a polícia não chega, a “jaulinha” (outro apelido dado pelos próprios indígenas) tem servido para punir dissidentes, sejam eles cabos eleitorais do adversário ou simples discordantes das políticas dos líderes. Mais que mero assunto criminal, é também um bom tema para antropólogos.