Entenda a reportagem em cinco pontos:
- Homens armados dispararam contra a casa e o carro do cacique da tribo caingangue Carlinhos Alfaiate, no sábado, em Redentora.
- O cacique conseguiu escapar do ataque, fugindo pelos fundos do imóvel. A casa foi destruída pelos criminosos.
- A GaúchaZH, Alfaiate disse que acredita ser o alvo dos criminosos e que estava em casa com a esposa quando os criminosos chegaram. Ele foi encontrado no domingo pela polícia, na mata.
- A investigação apurou que o ataque à casa de Alfaiate ocorreu em meio à disputa de poder pela liderança da tribo com o vice, Vanderlei Ribeiro.
- Outras ocorrências, envolvendo ameaças e tiros, foram registradas nas últimas semanas.
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As autoridades federais estão dispostas a pôr fim ao conflito que opõe dois grupos caingangues na maior comunidade indígena do Rio Grande do Sul e culminou com atentado a tiros de fuzil contra o cacique da reserva da Guarita, no fim de semana. A Fundação Nacional do Índio protocolou no Ministério da Justiça o pedido de intervenção federal na reserva, que reúne 7 mil caingangues e cerca de 800 guaranis.
A palavra final será do ministro Sergio Moro. A rixa na reserva (situada entre os municípios de Tenente Portela, Miraguaí e Redentora, próximo à fronteira com a Argentina) opõe o atual cacique, Carlinhos Alfaiate, e o vice-cacique, Vanderlei Ribeiro, o Vandinho. Os dois partilham a governança sobre os índios há cerca de dois anos e se desentenderam a respeito da nomeação de cargos em escolas e postos de saúde, entre outros assuntos. A disputa entre os grupos dos dois líderes indígenas resultou em seis atentados a tiros em duas semanas, além de duas casas incendiadas, segundo a polícia. Em pelo menos um caso, um caingangue declarou ter sido sequestrado e torturado por índios rivais.
Uma das residências incendiadas foi a do cacique Carlinhos Alfaiate, que escapou por pouco da morte. A casa foi atacada por cerca de 15 homens armados, conforme testemunho dele e de sua esposa, que foi cercada pelos agressores, alguns deles encapuzados. O ataque deixou toda perfurada por tiros uma van do cacique e o imóvel foi completamente queimado por tochas embebidas em líquido inflamável.
É na tentativa de cessar com os distúrbios que o coordenador regional da Funai, Aécio Galiza Magalhães, fez memorando nesta segunda-feira (21) para o Ministério da Justiça, no qual sugere intervenção federal na reserva da Guarita. Caso seja atendido, o pedido resultará na destituição do cacique e do seu vice. Um interventor seria nomeado pela Funai, talvez um militar. Isso já aconteceu em outros locais do país.
— Pedi isso antes que aconteça uma chacina, uma tragédia. A intervenção pode ser por forças do Exército, pela Polícia Federal ou pela Força Nacional de Segurança (tropa de elite formada por policiais militares e civis). Os líderes dos dois grupos sentaram para negociar há duas semanas, foram firmados acertos, mas os acordos foram rompidos — justifica Aécio.
Entre os acertos que foram esboçados estaria uma distribuição mais equitativa de cargos nomeados pelo cacique e vice.
Aécio é coronel da reserva do Exército e foi indicado para o posto pelo general Franklimberg Ribeiro de Freitas, que foi presidente da Funai até junho.
Aécio coordena a regional da Funai em Passo Fundo, que responde por todas as reservas caingangues do RS. Ele não sabe se o pedido será atendido, mas salienta para o risco de pessoas inocentes serem mortas no conflito. A intervenção não teria prazo para acabar.
O Ministério Público Federal (MPF) também solicitou intervenção. Em memorando à Polícia Federal, a procuradora da República Camila Bortolotti, que supervisiona de forma interina as ações referentes à reserva da Guarita, solicitou o reforço de policiamento naquela área indígena. A PF até o momento realizou perícia nas casas incendiadas, mas o pedido é para que seja reforçado o contingente de federais, com envio de pessoal de Porto Alegre, se necessário. E também com apoio da Brigada Militar.