Um preso foi esquartejado na Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan) na terça-feira (8). Foi a quarta morte desde a inauguração desse moderno complexo prisional, que nasceu com uma utopia: evitar a presença de facções criminosas. Os administradores foram atropelados pela realidade. Tudo indica que foi a maior organização criminal gaúcha, centralizada no Vale do Sinos, que ordenou a execução do detento. O autor confesso do crime tem fama, no submundo, de matador: responde por oito homicídios.
O cidadão pode até não se comover com a morte dos presos, mas é evidente que o esquartejamento é sintoma de um descontrole que mescla avanço de facções e carência de funcionários. Como é que nenhum servidor viu ou ouviu alguém ser retalhado na madrugada? É que, na real, os agentes não entram nas galerias durante a noite. Elas são administradas pelos próprios presos. Ai de quem cair em desgraça.
E daí?, poderia perguntar um leitor. Aí que facções controlando um presídio são a matriz de crimes na rua. E quanto menos servidores, mais vulneráveis eles ficam a chantagens. O presidente do sindicato dos agentes (Amapergs), Saulo Felipe Basso dos Santos, afirma que o Rio Grande do Sul está com um déficit de 3 mil servidores penitenciários. São 5,3 mil hoje, média de um para cada oito presos. Conforme estimativa do Ministério da Justiça, deveriam ser um para cada cinco presos.
O próprio governador Eduardo Leite reconheceu, dias atrás, que há carência de servidores penitenciários e condicionou a nomeação dos 1,3 mil já concursados à aprovação da reforma tributária. O cronograma estabelecido pelo governo prevê chamar 450 deles ao trabalho em março de 2021. O problema é que a urgência se configura. Antes que as boas estatísticas da segurança pública sejam abaladas por mais esquartejamentos e as prisões-modelo virem pocilgas na vala comum do sistema penitenciário.