Na manhã de segunda-feira (25), perguntamos ao governador Eduardo Leite se era verdade que 400 presos eram vigiados por apenas quatro policiais penais no módulo 3 da Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan 3). Isso daria média de um servidor para cada cem detentos, no dia em que o líder de facção Jackson Peixoto Rodrigues, o Nego Jackson, foi assassinado lá dentro com sete tiros. O colunista recebeu esse informe de agentes que atuam no local. Até por lidar mais com políticas macro e não com minúcias do sistema penitenciário, Leite não soube responder. Mas a resposta veio no mesmo dia, à tarde. Conforme o governo estadual, naquele dia, a Pecan contava com um servidor para cada 45 presos.
O dobro de funcionários do que fora informado pelos agentes ao colunista. Mas ainda insuficiente, nos dias atuais. O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária recomenda que haja um agente para cada cinco presos nas unidades prisionais (nenhum Estado brasileiro cumpre). Talvez a média da Pecan fosse muito boa quando ela foi idealizada, anos atrás, como uma prisão sem facções. De tempos para cá, apenados ligados às maiores organizações criminosas gaúchas foram transferidos para o complexo penitenciário de Canoas. Um dos motivos é que lá foram implantados bloqueadores de celulares, inexistentes em outras penitenciárias. Até pode ser, mas o colega Lucas Abati comprovou que existe sinal telefônico junto aos muros da penitenciária canoense, inclusive com wi-fi fornecido por tendas que vendem alimentos aos visitantes.
Até por isso, o governador em exercício, Gabriel Souza, anunciou uma série de providências. Entre elas, bloqueadores de celular em 23 unidades prisionais e aquisição de 25 scanners corporais, equipamentos usados para revista nas unidades prisionais para barrar entrada de materiais ilícitos. Conforme relato de agentes, os do complexo Pecan estariam com problemas. Foram anunciadas também duas novas casas prisionais para desafogar o sistema (em Passo Fundo e São Borja), telas nas janelas Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc, de segurança máxima) e na Penitenciária Estadual de Charqueadas (PEC), para evitar que objetos lançados por drones cheguem nas celas.
Seria bom reforçar também as telas da Pecan, porque agentes relatam que o aramado é cortado para que esquadrilhas de drones lancem drogas aos presidiários.
Quanto ao assassinato de Jackson, o governo anunciou afastamento de cinco servidores. Um desses agentes teria recebido carta do apenado, que apelou para ser transferido, porque seus inimigos estavam em celas próximas à sua e pretendiam matá-lo.
Muitas perguntas demandam respostas. Por que o policial penal que recebeu o recado não removeu o líder de facção ameaçado? Por que foram mantidos inimigos históricos numa mesma ala? Como a pistola usada para matar Jackson chegou na mão do assassino? Ninguém viu ou aconteceu alguma forma de facilitação?
Dois inquéritos, um da Polícia Civil e outro da própria Polícia Penal, devem esclarecer esse fatos. Até para tentar impedir que as facções partam para a vingança, gerando nova guerra do crime nas ruas da Região Metropolitana. Com os riscos que isso representa para o cidadão comum.