Se você é daqueles que ainda acredita que o contrabando de fumo paraguaio é um delito menor deve assistir ao recém-lançado documentário Cigarro do Crime, produzido pelo Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP). Essa é uma entidade fomentada pelos industriais brasileiros para fazer frente a todo tipo de falsificações, com destaque para as fraudes no mercado de tabaco.
A FNCP encarregou uma equipe de jornalistas, tendo a frente o fotógrafo e cineasta João Wainer, de registrar a cadeia do cigarro ilegal que entope as ruas e os pulmões dos brasileiros: desde a fábrica, no Paraguai, até as ruas do Estado de São Paulo. As cenas começam nas indústrias tabacaleras paraguaias, que produzem 71 bilhões de cigarros por ano, embora os paraguaios só consumam 2,3 bilhões. Onde vai parar todo o tabaco industrializado excedente? Você adivinhou: no Brasil.
A explicação está no preço. O preço médio da carteira de cigarro contrabandeada é de R$ 3,44, enquanto o legalizado e produzido no Brasil, R$ 7,51. Isso ocorre, em grande parte, porque, no Brasil, a carga tributária sobre o cigarro é de 70%, enquanto no Paraguai é de 18%. O cigarro paraguaio é contrabandeado ou, então, fabricado clandestinamente no próprio Brasil, por trabalhadores paraguaios semi-escravos, como o leitor pode conferir em duas reportagens recentes do Grupo de Investigação da RBS (GDI). Dentro do Paraguai, a fabricação é controlada por seis famílias, sendo a mais importante a do ex-presidente Horácio Cartes (2013-2018).
O diferencial, no documentário da FNCP, é que os autores acompanharam a fabricação, a distribuição em depósitos situados junto a portos clandestinos do Lago Itaipu (que divide Paraguai e Brasil), filmaram as lanchas “voadeiras” fazendo a viagem abarrotadas de cigarros, entrevistaram receptadores e, por fim, falaram com os “cavalos doidos”, motoristas de vans que arrancam os assentos dos veículos para abastecê-los até o teto com cigarros. Eles falam de suborno e das fugas da polícia – também documentadas.
E a distribuição nas grandes cidades brasileiras, quem faz? Adivinhou: as grandes facções criminosas, que já enxergam no contrabando um filão tão lucrativo quanto o da cocaína. “Cem por cento do cigarro vendido nas favelas do Rio é paraguaio. Quem tenta comercializar marca legalizada não dura 15 minutos”, resume um entrevistado.
O documentário deve ser veiculado em redes de TV brasileiras, mas enquanto isso não ocorre, pode ser acessado no YouTube, por este link.