As Forças Armadas defendem a estratégia adotada até agora no país para combater a pandemia de coronavírus, mas recomenda novas estratégias num curto espaço de tempo, para evitar um baque dramático na economia. A mudança seria passar do isolamento horizontal – que está em vigor, defendido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e que manda todos ficarem em casa – para a estratégia de sequenciamento ou mista. Ela estabeleceria um calendário no qual seriam alternadas medidas de isolamento horizontal e vertical (esse último, modelo no qual apenas idosos e grupos de risco ficam apartados).
É o que consta em documento de 24 páginas elaborado pelo Centro de Estudos Estratégicos do Exército (CEEX), ao qual GaúchaZH teve acesso. O trabalho é de circulação interna no governo.
O isolamento vertical é defendido pelo presidente Jair Bolsonaro, que já se referiu ao Covid-19 como “uma gripezinha”. Ele acredita que a maioria das pessoas não manifestará a doença de forma grave e, por isso, apenas grupos de risco devem evitar sair de casa. A preocupação de Bolsonaro – e também de grande parte do empresariado nacional – é que a economia brasileira sofra um impacto irreversível.
Já o modelo horizontal é o predonizado pelo Minitério da Saúde, pela maioria dos sanitaristas e foi adotado por quase todos os governadores brasileiros.
O Exército, na contramão do Presidente, saúda o sucesso obtido com o isolamento horizontal. Ele teria conseguido sua missão maior, achatar a curva de crescimento da doença, permitindo fôleto às instituições de saúde para adquirir equipamentos e medicamentos vitais para diminuir mortes pelo coronavírus.
O documento do Exército também ressalta que o isolamento vertical tem dado certo em países pequenos, relativamente isolados (em geral, ilhas como Taiwan ou penínsulas como Coreia do Sul e Singapura) e com tradição de obediência às autoridades, como é comum no Oriente. Não é o caso do Brasil. Mas, reforça o estudo do CEEX, o isolamento horizontal (até agora adotado pelos brasileiros) tem custo altíssimo. Por isso é recomendado o sequencial.
Esse modelo foi, conforme o Exército, adotado com bons resultados no Japão. Ele estabelece rodízios no sistema de transporte (individual e coletivo), limitação de pessoas em supermercados, abre determinadas atividades para funcionar em determinados dias da semana e, sobretudo, se ampara em milhões de testes na população. Na medida em que o teste mostra anticorpos numa pessoa, ela pode ser liberada para circular e trabalhar, porque não ficará mais doente, nem transmitirá a doença.
É o que defende o ministro da Economia, Paulo Guedes. É também algo parecido com o que deseja o vice-presidente, general Hamilton Mourão.