O núcleo que atua na Operação Lava-Jato e que acompanhou Sergio Moro na sua migração para o governo Bolsonaro enxerga com desconfiança a possibilidade de recriação do Ministério da Segurança Pública - com outro ministro, que não Moro. Essa cogitação foi feita pelo próprio presidente nesta quinta-feira (23).
Bolsonaro disse: se for recriado o Ministério da Segurança Pública, terá outro titular. Moro ficará com a Justiça. Não é preciso ter dois olhos para ver que isso enfraquece politicamente o ex-magistrado.
Não que Moro esteja muito entrosado nas questões de Segurança Pública. Embora a quase totalidade dos policiais do país respeite as ideias e a carreira do ex-juiz, ao mesmo tempo se queixam de que ele se preocupa sobretudo com crimes de colarinho branco. Está pouco enfronhado nos delitos mais comuns e que atormentam o cotidiano das comunidades, como roubos e tráfico. Até tentou, mas o Congresso repeliu e desidratou seu pacote anticrime.
De qualquer forma, é provável que, com o passar do tempo, Moro desenvolvesse empatia pelos assuntos comezinhos da segurança pública e poderia se beneficiar, politicamente, da capilaridade nas relações com as polícias estaduais. Tudo isso cairá por terra se perder a pasta da Segurança Pública. A PF continuaria com ele, mas não a influência sobre as políticas estaduais contra o crime. Justo num momento em que poderia ganhar pontos e melhorar ainda mais o potencial eleitoral com a redução no número de homicídios, uma tendência que começa a se firmar.
Os lava-jatistas enxergam nessa cogitação de Bolsonaro uma manobra para afastar um possível rival. Pesquisas de opinião indicam que Moro é o único, no momento, com mais capital eleitoral do que o presidente.
É uma possibilidade. Mas convém lembrar que o próprio Bolsonaro disse que, caso concorra à reeleição em 2022, deseja Moro como vice. Será que o ex-juiz se contenta em ser sombra do presidente? Ou tentará voo próprio? Questões que podem ganhar corpo, caso ele perca mesmo a gestão da Segurança Pública.