O Brasil rompeu com uma imagem de décadas de neutralidade nas questões geopolíticas internacionais e deu apoio imediato à ação dos Estados Unidos (EUA) que matou o general iraniano Qassem Soleimani, num ataque com mísseis dia 2, no Iraque. O chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, elogiou os EUA na luta "contra o flagelo do terrorismo". O presidente Jair Bolsonaro disse que a vida pregressa de Soleimani "era voltada em grande parte para o terrorismo" e a posição do Brasil é se aliar a qualquer país do mundo no combate ao terror.
Generais brasileiros da ativa e da reserva consideram "uma temeridade" esse alinhamento imediato do Brasil aos EUA, como mostrou reportagem de GaúchaZH publicada segunda-feira (6). Por vários motivos: ao fazer isso, os brasileiros se tornam possível alvo de represálias comerciais e/ou terroristas. Esse posicionamento também vai contra o direito internacional, no que diz respeito ao assassinato de uma autoridade de uma nação (o general Soleimani). E, por último, porque a recíproca dos EUA, em termos de apoio, não tem acontecido. Ao contrário: o governo norte-americano continua com ações comerciais protecionistas, que prejudicam os empresários brasileiros.
Essa é a opinião que os militares ouvidos por GaúchaZH ousam externar. Mas existe outra que eles não declaram publicamente. Temem que, mais do que apoio retórico, o governo dos EUA exija do Brasil comprometimento em ações bélicas contra o Irã, em caso de guerra. Nem que seja pelo envio simbólico de tropas.
Há precedentes. Em 1990, a Argentina enviou dois navios de guerra e 311 militares para apoio aos EUA na Guerra do Golfo. Fez isso a pedido do Conselho de Segurança das Nações Unidas, após a anexação do Kuwait pelo Iraque. Coincidência ou não, a partir dali os argentinos viraram alvo de terrorismo. Em 1992, uma explosão desmantelou a embaixada de Israel em Buenos Aires, deixando 29 mortos. Em 1994, outro atentado, com carro-bomba, destruiu a sede da Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA) em território portenho, com saldo de 85 mortes.
Os procuradores argentinos Alberto Nisman e Marcelo Martínez Burgos acusaram formalmente o governo do Irã de planejar o bombardeio e a milícia do Hezbollah de realizá-lo. Inclusive o general Qassem Soleimani, morto agora pelos EUA, é suspeito de ter planejado os atentados em Buenos Aires.
Tudo que os generais brasileiros NÃO QUEREM é atrair esse tipo de problema. E enviar tropas seria o primeiro passo para ganhar inimigos terroristas. O Brasil já enviou militares em diversas incursões planeta afora, mas eram Missões de Paz, coordenadas das Nações Unidas. Bem diferente de uma coalizão guerreira.
Um ministro militar de Bolsonaro confidenciou a este colunista:
— É provável que Soleimani fosse terrorista e concordo com a ação dos EUA. Mas nós devemos permanecer em dispositivo de expectativa, pois essa guerra não é nossa.
Simples assim. Mas não parece tão simples para um Itamaraty com retórica alinhada aos interesses norte-americanos.