Jair Bolsonaro até pode ter suas razões para afirmar que nada tem a ver com a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL). Ele sequer estava no Rio quando foi supostamente procurado, no condomínio, por milicianos que agora estão presos pelo assassinato da parlamentar. Ele diz que nem conhecia a vereadora ou seu trabalho - e isso é plausível, mesmo que seu filho Carlos vizinhasse de gabinete com ela na Câmara Municipal do Rio.
O que não é de bom senso é o ministro da Justiça, Sergio Moro, determinar que a Polícia Federal e sugerir que o Ministério Público Federal (MPF) entrem nas investigações para checar se a Polícia Civil do Rio fez uma boa apuração no que se refere aos eventuais laços entre a família Bolsonaro e o caso Marielle. Moro justifica que pode ser "denunciação caluniosa" a informação, dada por um porteiro, de que reconheceu a voz do "seu Jair" no interfone na casa de Bolsonaro e deu permissão para que os milicianos envolvidos no assassinato da vereadora ingressassem no condomínio onde o então pré-candidato presidencial residia. A informação consta de depoimento colhido pela Polícia Civil do Rio.
Ora, o ministro Moro não poderia usar a PF para tentar desmentir ou desmoralizar o trabalho da Polícia Civil. Não cabe a ele também pôr em dúvida o depoimento do porteiro, por dois motivos: ele não é advogado do Presidente, é apenas integrante do seu governo. Bolsonaro tem seu defensor particular.
A outra razão é que a questão envolvendo Bolsonaro e Marielle - se é que existe algo - é privada. Ele não era presidente quando os milicianos anunciaram que iriam na sua casa, horas antes de a vereadora ser assassinada.
Se é questão anterior ao mandato não deveria ser objeto de pedido de investigação por parte de Moro, que inclusive já trabalha com a hipótese de que o porteiro mentiu. Quem diz que o ministro não deveria interferir, aliás, não é este colunista, mas o presidente da Associação Nacional dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), Edvandir Félix de Paiva. Ele avalia que só o Supremo Tribunal Federal (STF) poderia ordenar o uso da PF no caso específico do presidente.
"O presidente precisa acionar seus advogados para comprovar sua inocência, como qualquer cidadão faz", declarou o delegado a sites de notícias, nesta quarta-feira (30).
A PF ainda não entrou no caso e o Ministério Público do Rio já se disse contrário ao pedido de Moro.