Em boa hora, a 17ª Delegacia da Polícia Civil desencadeou a Operação Toll (pedágio, em inglês). Comerciantes de grande, médio e pequeno porte em Porto Alegre não aguentam mais pagar pedágio para a facção mais violenta do Rio Grande do Sul. Ambulantes pobres do Centro são alvos preferenciais, mas não apenas esse bairro — áreas contíguas, como Floresta, Navegantes e São Geraldo, também.
Este colunista e o repórter Fábio Almeida, ambos do Grupo de Investigação da RBS (GDI), acompanharam durante alguns dias o calvário dos vendedores no perímetro entre as ruas Julio de Castilhos e Voluntários da Pátria. Sem saber que falavam com jornalistas, os ambulantes foram sinceros e admitiram seus piores temores: o de serem levados para o interior de uma das galerias e torturados porque não conseguiram pagar o "PP" (apelido que os criminosos dão para a propina).
O repórter perguntou o que acontece com quem vende celulares próximo ao camelódromo:
— Se te pegarem vendendo ali racham tua peruca (cabeça), nem chegam te falando nada. Meu, aqui não pode vender, em nenhum lugar do Centro pode vender. Pra ti vender só se for embolado (comparsa) com alguém, conhecer alguém. Chegar aqui de paraquedas pra vender, tá loco...
O vendedor continua:
— Porque, na real, os caras pegam bola (propina) para deixar trabalhar aqui. Os Bala na Cara pegam bola. Aí se te pegar vendendo vão achar que tu tá um tempão aí, te pegam e te matam. Tô te falando a real. Todo mundo que vende celular aí dá um dinheiro pros caras, entendeu? Paga por semana ali, ó. Se eles te pegarem, vão te rachar, achar que tu não tá querendo pagar. Nem sabe por que tu tá apanhando. Os caras te pegam e te arrastam e te matam e ninguém vai ficar sabendo. Tô te dando o papo pra ficar esperto, né meu. Não vai pagar pra ver! Se os caras te pegarem, não vão ter carinho. O bagulho é facção.
Outro ambulante completa o alerta:
— Sim, mano, mas aí tu vai ter que pagar o PP (propina). É R$ 50 por semana!
GaúchaZH ainda testemunhou dois criminosos fazendo ameaças aos ambulantes. Um deles acabou preso na Operação Toll.
Que a ação desta sexta-feira (6) seja a primeira de muitas para retomar do banditismo o centro da Capital.