O episódio do adolescente que feriu três pessoas a machadadas em Charqueadas, na Região Carbonífera, mostra o quanto o fenômeno dos assassinos em série, que parecia tão distante, começa a se banalizar no Brasil.
A respeito disso, recebo do colega jornalista Tiago Lobo uma importante contribuição. Ele traduziu para o português um documento da save.org (Suicide Awereness Voices of Education), uma ONG norte-americana voltada para a prevenção do suicídio.
O doutor Daniel Reidenberg, diretor-executivo da entidade e também secretário geral da Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (IASP), compilou uma série de dados sobre comportamento de autores de ataques em massa, como o que ocorreu em Charqueadas. Alguns pontos:
- A maioria das pessoas que vivem com uma condição de problema de saúde mental não é violenta. Além disso, aqueles que realizam tiroteios em massa muitas vezes não foram formalmente diagnosticados com uma condição de saúde mental.
- Um diagnóstico de saúde mental não é necessariamente, ou causalmente, relacionado à violência.
- A maneira pela qual a mídia noticia tiroteios em massa pode contribuir para o efeito contágio (comportamento imitador). Uma reportagem responsável pode reduzir este risco.
- Sensacionalizar o incidente pode incentivar pessoas que buscam notoriedade.
Em resumo, é importante não generalizar sobre causas de ataques em série e/ou em massa: elas podem ser diversas e cada indivíduo tem suas peculiaridades.
Além disso, o documento faz outros alertas. Um deles é "sinais de que alguém pode estar preparando ataques em massa". Confira:
- Comportamentos de vigilância (envolvendo uma cena).
- A pessoa faz ameaças explícitas, verbais ou por escrito, sobre planos para prejudicar ou matar outros.
- Expressa admiração ou identificação com outro perpetrador de violência.
- Realiza pesquisas online sobre armas e tem obsessões com a aquisição de grandes quantidades de armas de fogo ou armas brancas.
- Expressa fantasias ou pensamentos de se envolver em tiroteios e outros comportamentos violentos.
Uma das possibilidades é convencer uma pessoa em sofrimento emocional a procurar ajuda. Onde? No Brasil existe o Centro de Valorização da Vida (CVV), acessível pelo número telefônico 188. O CVV realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias.