Colegas que fazem a cobertura do ataque de um perturbado emocional a estudantes de uma escola em Charqueadas relatam que, ao ser apreendido, ele confirmou ser ex-aluno que queria se vingar de humilhações sofridas no colégio.
Nenhum espanto. Agressões sofridas no ambiente escolar foram a motivação confessa e expressa de assassinos que mataram 13 pessoas em Columbine (EUA), antes de se matarem, 20 anos atrás. Foi também o que alegou, em carta, o assassino de Realengo, bairro do Rio, que matou 12 ex-colegas de escola e feriu 22 — episódio que cobri para Zero Hora, em 2011. Nos dois casos, os matadores alegaram desejo de vingança.
Falei com duas psicólogas gaúchas, ambas especializadas em suicídio e casos de violentas consequências emocionais. Elas preferem não dar os nomes, em decorrência da escassez de informações sobre o episódio específico, mas ressaltam que o bullying é um dos maiores catalisadores de assassinatos em série.
Lógico que nem todos que sofrem agressões viram violentos depois, e apenas um reduzidíssimo número comete homicídios. É preciso outros componentes de perturbações, individuais, para levar a esses extremos. Mas o bullying é seguramente uma das maiores motivações desses massacres (ou tentativas).
— Em geral, são homens, com agressividade tóxica e dificuldade de lidar e falar de seus sentimentos, além da sensação de que o mundo lhes deve algo — pondera uma das psicólogas, de Porto Alegre.
No caso específico de Charqueadas, chama a atenção que o episódio acontece um dia depois de outra ameaça de mortes em série, ocorrida no Rio. Tanto lá como aqui o agressor ameaçou suas vítimas com arma branca (faca, no Rio, e machadinha, em Charqueadas) e também com garrafas de combustível para incendiar as pessoas (nos dois episódios).
Será que o jovem de Charqueadas se inspirou no do Rio? É bem provável, admitem as duas especialistas consultadas. Assim como nos suicídios, a tentativa de assassinato em série pode estimular outras pessoas com sofrimento psíquico a dar vazão a seus instintos ou planos. Um modelo a se inspirar. Mas apenas a notícia não faz alguém matar ou se matar: é preciso que essa pessoa já tenha a intenção ou a perspectiva.
— Do contrário, qualquer filme violento levaria as pessoas à loucura. E elas vão para a cama e dormem depois. É preciso muito mais que um exemplo para um massacre ser tentado ou concretizado — comenta uma psicóloga gaúcha, radicada no Mato Grosso do Sul.