Willian Augusto da Silva, 20 anos, era introspectivo, vivia na internet, tinha dificuldades de se relacionar ao vivo e sofria de depressão, relataram à polícia do Rio de Janeiro familiares do homem que sequestrou um ônibus e, por quase quatro horas, manteve 39 pessoas reféns no veículo, parado sobre a ponte Rio-Niterói, na manhã desta terça-feira (20).
Os relatos também foram feitos a alguns dos reféns. O auxiliar de cartório Robson de Oliveira, que pega o ônibus da linha 2520 todos os dias no mesmo horário para ir ao trabalho, disse ter tido contato com um primo do sequestrador, que pediu desculpas em nome da família.
Natural de São Gonçalo, Silva morava no bairro de Jardim Catarina com os pais, ele padeiro e ela cuidadora de idosos, segundo depoimento à polícia.
Era de São Gonçalo que partia o 2520, o mesmo ônibus em que ele embarcou na manhã desta terça. Mas o veículo da Viação Galo Branco não chegou ao destino, o Estácio, na região central do Rio. Por ordem do sequestrador, ficou atravessado na ponte Rio-Niterói.
No momento do crime, Silva carregava na mochila, além da pistola de brinquedo, da faca e do taser (arma de eletrochoque) usados no sequestro, uma biografia do escritor Charles Bukowski, nascido na Alemanha, mas naturalizado americano, e conhecido por obras de caráter obsceno.
Sua mãe, Renata Paula da Silva, declarou que o filho era ansioso, introspectivo e tomava remédios. Em janeiro, em uma festa de família, ele teria relatado sua condição emocional aos parentes. Segundo um primo, identificado como Alexandre, tratava-se de um quadro depressivo.
Recentemente, Silva parou de ajudar o pai no trabalho porque se dizia acometido por dores nas pernas — até a conclusão desta reportagem a polícia não tinha informações sobre profissão do suspeito. No último fim de semana, Silva fez um passeio com a família, que se considera bastante unida.
— Graças a Deus que hoje quem está chorando é só minha família — disse o primo.
O diretor da divisão de homicídios que investiga o caso, Antônio Ricardo Lima Nunes, afirma trabalhar com a hipótese de planejamento.
— Acreditamos que o sequestro foi premeditado — afirmou.
Parentes disseram que ele já havia pesquisado ações de sequestro na internet. Passageiros relataram que ele afirmou que ficaria famoso.
Na véspera do sequestro, Silva deixou a casa dos pais e foi até a casa da avó. Retirou as garrafas onde colocou gasolina usada para ameaçar incendiar o ônibus. Em nenhum momento, contudo, o sequestrador foi violento, disseram reféns à polícia. Repetiu diversas vezes que não queira machucar ninguém e que não queria o dinheiro das pessoas no veículo.
Após duas horas de negociação, psicólogos da polícia concluíram que ele tinha traços psicóticos e era instável. Recomendaram, então, a ação tática, afirmou Maurílio Nunes, comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope).
Quando Silva deixou o ônibus, um atirador de elite disparou. Baleado, caiu e foi levado de ambulância ao hospital Souza Aguiar, onde teve parada cardiorrespiratória e morreu.