Um vídeo que circula em grupos de policiais mostra gravação feita pelos autores da chacina em Mostardas, que deixou cinco mortos e quatro feridos na madrugada de sábado (10). Eles filmam toda a ação, da chegada à boate onde aconteceram os crimes até o momento dos disparos. Dezenas. Saem comemorando, dando tiros para o ar e gritando o nome da facção, uma das maiores do RS, originária da Zona Leste de Porto Alegre.
O que mais chama a atenção no vídeo é que os bandidos chegaram gritando "Polícia!", "polícia!".
- Deitado, deitado, meu! - ordenam, para em seguida descarregar tiros de pistola nas vítimas indefesas.
A realidade é que criminosos de todo o Brasil têm utilizado uniformes policiais para poder chegar até seus inimigos sem reação. Uma atitude escrota, mas esperta. É que bandidos experientes não costumam reagir à aproximação de policiais. Sabem dos riscos. Preferem ser presos a serem mortos numa reação impensada. Afinal, estamos no país das portas da cadeia abertas com um sexto da pena. Melhor erguer as mãos, deitar e deixar rolar a prisão. Com sorte e um bom advogado, ficam dias em cana.
O problema é quando o policial é falso, como aconteceu em Mostardas. É possível que muitos dos mortos nada devessem à polícia e, por isso, acreditaram que fosse uma blitz, comum em danceterias. Mas era uma sangrenta armadilha.
Semanas atrás, um policial civil, verdadeiro, morreu durante operação em Montenegro. Ele tomou um disparo de espingarda atrás da porta. Os investigadores do crime estão convencidos de que o autor do disparo - que acabou morto por colegas da vítima - não acreditou que fosse mesmo a polícia batendo na sua casa.
Situação semelhante aconteceu há dois anos em Gravataí, também numa operação da Polícia Civil. Os criminosos acharam que era uma falsa blitz e mataram um inspetor que tentava entrar num apartamento.
Esse é um dos maiores dilemas da atividade policial moderna. O uso e abuso de uniformes policiais por parte de quadrilheiros faz com que os inimigos desses criminosos reajam à bala ante o menor sinal de abordagem.
É por situações como essas que policiais não costumam fazer operações noturnas, até porque mandados judiciais, via de regra, são dados para atuação diurna. Mas muitas abordagens para revista e apreensão de droga, por exemplo, são em locais públicos e dispensam ordem judicial. É o caso da boate em Mostardas. É um risco a mais para a profissão.