O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, foi salomônico ao liberar Luiz Inácio Lula da Silva para assistir às cerimônias fúnebres em homenagem a seu irmão, Genival Inácio da Silva, o Vavá - ainda que numa decisão tardia, tomada pouco antes do enterro dele. O magistrado permitiu a visita a familiares, mas não ao local do sepultamento. Numa curiosa decisão, sugeriu que o corpo fosse deslocado a uma unidade militar, para que o preso (Lula) pudesse demonstrar seu luto, longe dos holofotes. Algo do tipo "se Maomé não vai à montanha, que a montanha vá a Maomé".
Toffoli cedeu parcialmente ao que Lula e toda sua imensa torcida desejavam. Ele admitiu que é direito dos presos, assegurado pela Lei de Execuções Penais (LEP), assistir ao sepultamento de um irmão. Como o verdadeiro temor da Justiça é que uma multidão convergisse para assistir a algum pronunciamento do ex-presidente - quem sabe um comício ao pé do túmulo -, o presidente do STF solicitou que, se a depender do caso, o corpo de Vavá fosse ao encontro do irmão célebre. Na decisão, Toffoli proíbe Lula de portar celular e de ter contato com a imprensa.
Curioso que Toffoli tenha anunciado a decisão tarde demais. O embate sobre a ida ou não de Lula ao enterro já dura 24 horas. O ministro do Supremo poderia ter anunciado sua intenção logo cedo, dando tempo para solucionar as questões de deslocamento, logística e segurança que fizeram a PF e outros magistrados negarem o pedido de Lula.
Soubessem antes da decisão de Toffoli, os familiares poderiam ter retardado o sepultamento (há técnicas que permitem isso). Mas o presidente do STF decidiu se pronunciar apenas pelos autos. Tarde demais. Lula disse que não vai sequer visitar seus familiares, mesmo que a decisão permitisse que ele fizesse isso após o enterro.
Toffoli tentou colocar um pano quente em cima da convicção dos petistas de que Lula é um perseguido pela Justiça. Só que a benesse do STF não chegou a tempo e o que ficará, para o histórico oficial do PT, é que seu mais conhecido militante não pode se despedir de um irmão na hora da morte.