A operação desencadeada nesta quinta-feira contra fraudes em concursos tem uma peculiaridade. A empresa-alvo, a Objetiva, atuava em faixa própria. Ao contrário de outras vezes em que golpes foram aplicados em licitações para escolha de candidatos a cargos em prefeituras e câmaras de vereadores, desta vez a combinação se dava apenas entre a firma organizadora dos certames e o poder público. Não existia acerto entre empresas, como ocorre na maioria das ocasiões em que é registrado esse tipo de delito.
Conforme o Ministério Público, a Objetiva combinava com a prefeitura ou Câmara de Vereadores a dispensa de licitação, evitando assim a presença de concorrentes ao butim —o dinheiro obtido pela venda das vagas públicas em disputa. Sim, porque prefeitos e vereadores, muitas vezes, vendem aos interessados um disputado cargo de servidor municipal. Quem viabiliza a "legalização" do golpe é a empresa organizadora do concurso, que divulga antes, para quem pagou, o gabarito das provas. Ou manipula os resultados das questões, de forma a que apenas os envolvidos na tramoia sejam aprovados.
Tudo isso foi objeto de uma extensa reportagem do Grupo de Investigação da RBS (GDI) em 2017, intitulada Concursos fraudados se espraiam pelo RS. Os repórteres flagraram, no serviço, concursados que tinham pago para serem aprovados ou que eram cabos eleitorais beneficiados pelo prefeito, em provas fraudadas em conluio com organizadores de concursos. Foram divulgados também diálogos gravados em que administradores municipais debatem quem deve ser aprovado ou não no concurso.
Esse tipo de delito já foi objeto de três grandes operações do Ministério Público desde 2010, com várias etapas. Mais de 100 provas fraudadas já foram identificadas em municípios gaúchos. Em grande parte, graças a delações premiadas, essa forma de obtenção de provas tão polêmica, mas certamente muito útil.