Muita gente torceu o nariz quando o Exército assumiu o gerenciamento da Segurança Pública no Rio. Por mágoa com o passado — a ditadura militar — ou por considerar, genuinamente, que presença de tropas nas favelas não mudaria nada.
Acontece que a ideia nas cabeças pensantes do Exército, desta vez, é menos tropas nas favelas e mais expurgos no crônico banditismo que assola as polícias fluminenses. Sei disso porque conversei com militares que ajudaram a tomar a decisão de intervenção. “Tirar a banda podre das polícias” é uma das principais metas dos interventores de farda. Em paralelo, ocupar áreas dominadas por bandidos comuns.
Alguns sinais mostram que o Exército pode estar a caminho desses objetivos.
1 – 159 homens foram presos no último sábado numa festa promovida por milicianos em Santa Cruz, zona oeste do Rio. Quatro morreram em troca de tiros com policiais civis. Foi a maior operação contra milícias já realizada no país. Vários dos detidos são policiais. Outros, militares do Exército. Foram apreendidas dezenas de armas e milhares de projéteis. Estão presos até agora. A operação foi realizada já com chefia nova na Polícia Civil, indicada pelo Exército.
2 – Foram presos pela Polícia Civil, em outra ação, milicianos suspeitos de executar cinco jovens (nenhum deles com antecedentes) também na Zona Oeste do Rio. São ações da nova chefia de polícia, nomeada pelos militares do Exército. Essa ação e a outra em Santa Cruz foram empalidecidas no noticiário pelo compreensível destaque à prisão do ex-presidente Lula.
3 – Pistas sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e seu motorista, emboscados num carro em 14 de março, começam a surgir. Quatro vereadores e ex-vereadores ligados a milícias foram ouvidos pela Polícia Civil. Mais: uma cápsula de bala 9 mm usada para matar Marielle tinha digitais do assassino (ou de quem municiou a arma). As balas são do mesmo tipo usado em três chacinas (uma em São Paulo e duas em Niterói). Agora serão comparadas com as de parlamentares desafetos de Marielle e de outros milicianos.
É um caminho. Os militares querem desmentir o ditado de que “lobo não come lobo”. Mostrar que vieram para melhorar e que a morte de Marielle será esclarecida, mesmo sendo ela uma combativa adversária da intervenção militar. Terão sucesso? Eis a questão. Milicianos foram executados, em possíveis queimas de arquivo. É preciso agilidade.