Longe vai o tempo em que Rio e São Paulo eram as capitais mais violentas do país. O sangue agora corre em mais quantidade no Nordeste, seguido de perto pelo Norte do país. Uma curiosa e gradual mudança no mapa dos homicídios, conforme o mais recente anuário do Fórum Brasileiro da Segurança Pública.
Enquanto a taxa de homicídios por 100 mil habitantes permanece estável, em torno de 30 (altíssima, mas dentro da média dos últimos anos no país), o banho de sangue migra de região. Três diminutos Estados nordestinos concentram as maiores taxas de assassinato: Sergipe (64 por 100 mil habitantes), Rio Grande do Norte (56,9) e Alagoas (55,9). No Norte, o campeão é o Pará, com taxa de 46,10 - 15 pontos acima da média brasileira. O dado considerado aceitável pela Organização das Nações Unidas (ONU) é 10 mortes por 100 mil pessoas - acima disso é considerado epidemia.
Quando feita uma comparação com outras regiões do país, o Rio Grande do Sul aparece com 28,7 homicídios por 100 mil habitantes, taxa similar à média nacional.
É mesmo impressionante essa mudança geográfica das mortes. As explicações passam por vários pontos. São Paulo, que já foi campeão nacional em homicídios, hoje tem taxa de 11,70 mortes por 100 mil (dentre as menos mortíferas da América Latina), por força de quatro fatores: mais policiamento, mais presídios, concentração de poder numa facção criminal (quanto menos organizações, menos mortes violentas) e Lei Seca na madrugada em alguns municípios, que tiveram violência reduzida em decorrência disso.
E o Rio? Para quem vê no noticiário a traumática guerra do tráfico em território carioca, até que a taxa não é assustadora: 30,30 homicídios/100 mil habitantes. É que as mortes ali são sobretudo entre grupos, conflito de facções. Já no Nordeste e Norte pesam muito, ainda, os crimes passionais, as brigas ocasionais e as rixas familiares, tudo por herança histórica. A somar-se a essa tradição de lavar a honra com sangue, há também a novidade dos cartéis regionais do crime, como a Família do Norte, que não poupa no corte de cabeças dos desafetos. Todos os estados do Norte, aliás, têm homicídios acima da taxa brasileira. Todos os do Sul, abaixo da média. Metamorfoses de um Brasil continental.