O gênio Raul Seixas falou que preferia ser uma Metamorfose Ambulante, antes de ter aquela velha opinião formada sobre tudo. Um conselho que poderia servir a todos nós. Só que, subvertendo a canção do poeta roqueiro, o Brasil virou uma grande contradição ambulante. Exemplo disso é a prisão de Newton Ishii, o Japonês da Federal. O rosto mais conhecido da PF na maior operação policial já desencadeada no país, a Lava-Jato, está agora atrás das grades.
Surpresa? Só para quem não acompanha os noticiários e não prestou atenção na máxima bíblica de que ídolos podem ter pés de barro. É o caso de Ishii. De tanto aparecer nas fotos conduzindo empresários e políticos flagrados em corrupção, virou símbolo dos que queriam a limpeza ética do país. Tanto que uma das marchinhas de sucesso no último Carnaval começava com o refrão "...aí, me dei mal, bateu na minha porta o Japonês da Federal!".
Só que Ishii era também investigado. Respondia a um demorado processo por facilitação de contrabando na fronteira do Paraná com o Paraguai. Estava condenado, mas permanecia escoltando presos da Lava-Jato por força de recurso judicial para permanecer em liberdade. Não mais. Desde ontem ele é, preso, vizinho de cela dos sujeitos que ele costumava vigiar na carceragem da PF em Curitiba.
A Lava-Jato pode ter errado ao permitir tamanha visibilidade de um símbolo que já estava condenado, literal e metaforicamente falando. Erram aqueles que, em gritos nas manifestações, dividem apressadamente os sujeitos (e a política em particular) em bons e maus. O mundo é mais complexo, como a prisão do Japonês da Federal demonstra.