Um dos motivos para a demorada negociação naquela que pode ser a "delação do século" na Lava-Jato é que a Odebrecht reluta em falar de todos os seus negócios planeta afora. E não são poucos. A empreiteira, a maior do Brasil, atua em mais de 80 países.
Note-se que usamos acima o verbo "reluta", porque a negociação ainda não está pronta. Faltam detalhes _ e um dos detalhes é que o Ministério Público Federal (MPF) quer que a Odebrecht fale de todos as suas operações, inclusive os do Exterior. Há suspeita, bastante fundamentada, de que vários negócios da empreiteira em outros países tiveram engrenagens azeitadas na base da propina. Em nome do interesse público, procuradores da República querem que as revelações incluam qualquer investimento da empreiteira e financiamentos oficiais recebidos para fazê-lo _ seja uma obra na África ou no Caribe, para ficar em dois exemplos. Isso porque grande parte dos empreendimentos (para não dizer todos) recebeu incentivo oficial, inclusive de bancos como o BNDES.
Já advogados da Odebrecht têm argumentado que obras da empresa no Exterior não são da esfera da Lava-Jato e, na maioria das vezes, envolvem agentes privados. Caso a empresa abra seus segredos sobre eles, corre o risco de ter os contratos rescindidos, sob argumento de que foi quebrada a cláusula de confidencialidade de todos os negócios vultosos. Caso parceiros rompam contratos, a empreiteira pode ficar sem o dinheiro obtido no Exterior. Seria desastroso, até porque no país a companhia terá de pagar uma multa bilionária (ou de vários bilhões) para manter o direito de participar de licitações públicas.
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– Imaginem quantas confidências deve envolver um grande empreendimento como uma represa em um grande país africano, governado por um presidente autoritário, há décadas no poder – exemplifica uma fonte que está por dentro das negociações entre a Odebrecht e o MPF.
Outros detalhes estão próximos do acerto. Entre eles, a possível libertação de Marcelo Odebrecht ("príncipe-herdeiro" da empreiteira) quando prestes a completar um ano de prisão. E as condições em que cumprirá a condenação que já lhe foi imposta.