A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Cada vez mais presentes em pratos da alta gastronomia, as flores comestíveis também têm encontrado terreno fértil nas propriedades rurais gaúchas. A opção de cultivo de um jardim, ao lado da produção de verduras e frutas, por exemplo, tem ganhado adesão de produtores rurais como uma opção de renda extra ao negócio da família.
É o caso da produtora Franciele Bellé, que cultiva flores comestíveis em Antônio Prado, na Serra, há oito anos, e comercializa parte da sua produção na feira orgânica da Redenção, em Porto Alegre. Hoje, ela possui clientes fidelizados, como restaurantes, bares, confeitarias, saboarias e até consumidores finais, "que compram as flores para enfeitar a salada no final de semana".
Tio de Franciele, Nelson Bellé também resolveu se aventurar com um jardim.
— Começou a surgir uma demanda de restaurantes na região por esses produtos. Foi aí que comecei o cultivo. Mas não é em larga escala, é para uma renda extra e manutenção do jardim — explica o produtor, que trabalha no Centro Ecológico do Litoral Norte.
Na outra ponta da cadeia produtiva, a ISLA Sementes, empresa gaúcha de sementes de hortaliças, flores e temperos, também percebe uma maior procura do insumo por produtores rurais.
— Não chega a impactar diretamente nas vendas, mas, de dois anos para a cá, cresceu a representatividade das flores comestíveis — reconhece Diana Werner, presidente da ISLA Sementes.
A agricultora Franciele também vê margem para o futuro do cultivo no Estado:
— As flores comestíveis já se tornaram a única fonte de renda para algumas famílias: por não demandarem tantos insumos, acabam ampliando a rentabilidade na hora da colheita.
Ela faz parte de um grupo de WhatsApp com mais de 100 produtores de flores comestíveis no Estado, que trocam informações de cultivo diariamente. E observa ainda que há também mais maneiras do mercado explorar o uso desses produtos.
— As flores comestíveis são usadas mais como decoração. Pouco se usa como ingredientes de receitas, por exemplo. E seria interessante, nutricionalmente falando, porque cada cor das flores indica um micronutriente. E tem algumas cores que só encontramos nas flores comestíveis, em mais nenhum outro alimento — exemplifica Franciele, que está se formando em Nutrição.
De onde vem o interesse
Um estudo do programa de Fitotecnia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), divulgado há dois anos, apontou que os consumidores brasileiros têm se interessado cada vez mais pelas flores comestíveis pelos seus fatores nutricionais e pela curiosidade gerada por programas gastronômicos.
De acordo com a engenheira agrônoma Lais Rossetto, responsável pela pesquisa, o uso de flores comestíveis existe desde 3.000 a.C. O consumo de algumas dessas plantas se tornou rotineiro, como a alcachofra e a couve-flor.