Uma das preocupações levantadas pelo setor produtivo em relação à importação de arroz é a de que a medida se converta em uma redução de área plantada na próxima safra. A relação entre a aquisição e o recuo no espaço dedicado à cultura, com potencial efeito na oferta do produto a longo prazo, são ponderações feitas pela Federação das Associações de Arrozeiros do Estado (Fedrearroz-RS). O primeiro leilão para a aquisição do cereal de outros países, operacionalizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), está marcado para a quinta-feira (6).
— Ainda teremos uma certa ressaca desse movimento de corrida ao supermercado (para a compra de arroz) — ponderou Alexandre Velho, presidente da entidade, em entrevista ao programa Campo e Lavoura da Rádio Gaúcha.
É uma referência a comportamento semelhante verificado no período da pandemia, quando os consumidores, em um primeiro momento, compraram grandes quantidades. Com um “estoque” formado em casa, o que se viu depois foi uma redução no consumo do produto, ampliando a oferta.
O setor garante que há produção suficiente para dar conta da demanda, apesar das perdas trazidas pelas cheias. Nesse cenário, o efeito rebote da corrida aos supermercados somado à entrada de arroz importado podem “gerar uma oferta demasiada no mercado interno, com estoque de passagem elevado no final do ano”, diz Velho:
— E isso pode comprometer a área plantada, o RS pode voltar a diminuir.
A referência é em relação a um movimento de desestímulo à atividade que fez o Estado chegar, na safra passada, à menor área cultivada em 25 anos, segundo números da Conab – assim como os do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga).
A indústria de beneficiamento de arroz também tem se manifestado de forma contrária à importação, por entender ser desnecessária em relação ao abastecimento e onerosa aos cofres públicos.
— Se o governo quer controlar preços, não tem medida melhor do que incentivar a produção e a indústria — pontua Andressa Siva, diretora-executiva da Associação Brasileira da Indústria de Arroz (Abiarroz).
O governo, por sua vez, argumenta que a iniciativa busca trazer equilíbrio aos preços para o consumidor. O ministro da Agricultura falou em combater “a especulação do arroz”, alegando alta de até 40% em um mês no valor ao consumidor. O presidente da Federarroz lembra que “o produtor não coloca preço em seu produto”.
Ouça a íntegra da entrevista no Campo e Lavoura da Rádio Gaúcha: