A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
É da terra de um assentamento, no interior de Encruzilhada do Sul, na Serra do Sudeste, que começa a produção do vinho que passou a fazer parte, neste ano, do cardápio do famoso hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. Mais do que repercussão nacional, a presença de dois rótulos da vinícola Pedras da Quinta Vinhos Autorais na carta do estabelecimento dá agora um "empurrãozinho a mais" ao trabalho do produtor Olivio Maran, que, neste ano, colherá uma safra 35% menor.
— Empresas que estão há anos na carreira ainda não conseguiram entrar na carta de vinhos do hotel. E nós, de uma hora para outra... E justamente no momento de uma safra que não vai ser tão boa — compara "Gringo", como Maran também é conhecido na região, contente.
A produção de vinhos no assentamento se iniciou quase sem querer, há quatro anos. Funcionário de uma tradicional vinícola até então, Maran sempre gostou de beber socialmente, mas só tomava vinho "de qualidade", como diz. O custo, então, começou a ficar muito alto. Além de uma alternativa para economizar, o produtor vislumbrou na atividade uma forma de agregar valor ao seu negócio — a produção de uvas finas.
— Comecei a perceber que as uvas que entregava às vinícolas eram de alta qualidade e, com elas, as empresas produziam vinhos excelentes. Decidi pegar parte delas para mim — reforça o assentado.
E foi durante o Wine South America do ano passado, quando a vinícola recebeu o convite do hotel Copacabana Palace, do Rio de Janeiro, para participar da sua carta de vinhos. Os rótulos escolhidos foram um tannat e um chardonnay da safra 2022.
— Um sommelier do estabelecimento estava degustando os vinhos, passando de estande em estande. Não deu uma hora e voltou até a gente para negociar — conta o produtor, que toca o negócio com seu sócio, Diogo Durigon.
Neste ano, o pomar da Pedras da Quinta, de 18 hectares, terá uma produção de 130 toneladas de uvas finas — ao invés de 200 toneladas, que é a produtividade da área. Geralmente deste total 20 toneladas são reservadas para a produção própria de vinhos. Mas, neste ano, a quantia será "bem menor", adianta Durigon. O restante é e continuará sendo vendido para outras empresas.
— O excesso de chuva na florada prejudicou a safra. Como as uvas não estão com qualidade excelente, e nós buscamos fazer os vinhos com excelência, vamos produzir menos vinho desta safra — esclarece o sócio.
A vinificação e o envase ocorrem em uma indústria localizada em Bento Gonçalves. Por ano, a produção é de 15 mil garrafas. A intenção é, no futuro, realizar a vinificação no local, para que o vinho saia pronto da propriedade. Mas o assentamento depende de energia elétrica trifásica – solicitada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) à concessionária – e da titulação do lote.
A comercialização dos rótulos é feita por encomenda via contato direto, eventos, restaurantes, pontos de venda de parceiros e redes sociais.
Encruzilhada do Sul é um município que faz parte da Serra do Sudeste, uma das quatro regiões produtoras vitivinícolas no Estado, junto à Serra, Campanha e Campos de Cima da Serra.