A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
No mapa dos parreirais gaúchos, mas com menos altitude do que a Serra e mais do que a Campanha. Essa é a geografia que leva a produção de vinhos até o município de Camaquã, no sul do Estado. Apesar de ser pouco conhecido como parte de alguma região vitivinícola, o município abriga a Altos Paraíso Vinhedos, que, neste verão, deve colher até 40 toneladas de uvas finas.
Caso a projeção se confirme, a safra será até 40% menor neste ano, afirma Valtencir Gama, sommelier e proprietário da vinícola.
— Apesar do excesso de chuva ter influenciado no abortamento de cachos, a qualidade deve ser muito boa. O açúcar acabou se concentrando nos cachos que ficaram — pondera Gama.
Recente, a produção da Altos Paraíso Vinhedos começou há cinco anos e é a única vinícola localizada no município registrada na plataforma Brasil de Vinhos.
Com solo granítico argiloso, relevo desenhado por coxilhas, altitude mediana e produção de uvas brancas e tintas com um sabor mais frutado, o município de Camaquã está localizado na encosta da Serra do Sudeste, região vitivinícola recente no Estado, explica Jorge Tonietto, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, de Bento Gonçalves:
— Onde estão os municípios produtores de Encruzilhada do Sul e Pinheiro Machado. Mas este município está na borda da região produtora, fugindo do núcleo de produção que está em altitudes maiores.
De acordo com o chefe-geral da Embrapa Uva e Vinho, Adeliano Cargnin, a região surgiu a partir da migração de produtores de uva da serra gaúcha:
— As terras eram mais baratas e as áreas eram mais planas. Ali, seria possível mecanizar mais o parreiral, diferente do que se faz na Serra.
No caso da Altos Paraíso Vinhedos, Gama, advogado tributário, conta que sempre gostou de vinhos e, em um dia de "mais sorte do que juízo", decidiu plantar um parreiral no município onde nasceu. Depois de uma série de pesquisas de terroir, para entender se as mudas vingariam, percebeu que a região era propícia para o cultivo — hoje em oito hectares, todos irrigados.
— As coisas acontecem movidas à paixão. A ideia de trazer a vitivinicultura para a região foi para transformar o cenário paisagístico, deixar com um pouco mais de beleza e trazer diversificação de cultura e renda. É uma região fantástica — salienta.