A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
O número de produtores cadastrados que comercializam hortifrutigranjeiros na Centrais de Abastecimento do Estado (Ceasa/RS) caiu pela metade em seis anos na Capital. É o que revela levantamento realizado anualmente pela própria Ceasa. Enquanto em 2017 havia 3 mil agricultores, em 2023, a Ceasa somou 1,5 mil cadastros. A queda, que tem sido contínua pelo menos há seis anos, preocupa tanto a administração da centrais quanto a entidade que representa os agricultores no espaço.
Presidente da Associação dos Produtores Hortigrangeiros da Ceasa/RS, Evandro Finkler foi o primeiro a levantar a inquietação à coluna:
— Alguma coisa terá de ser feita. O agricultor pode não estar conseguindo competir no mercado. E a minha suspeita é de que quem está deixando de vir é o pequeno produtor.
Diretor-presidente da Ceasa/RS, que tomou posse na empresa pública em maio, Carlos de Souza também compartilha a aflição:
— Me parece que se deixou a desejar nos últimos anos em relação a iniciativas que estimulassem a permanência do agricultor no campo. Mas claro, não é só isso.
Na avaliação de ambos dirigentes, os boxes mais vazios se devem a múltiplos fatores. A falta de sucessão familiar no ramo da produção de alimentos é uma delas. A migração de agricultores para o cultivo de commodities é outra. E as condições climáticas adversas, uma hora estiagem, outra de chuva forte, continua Souza, também foram determinantes para a saída de alguns produtores nos últimos anos.
De São José do Hortêncio, no Vale do Caí, o produtor André Luís Robinsohn foi um dos que desistiu de comercializar da Ceasa/RS no ano passado. Produtor de hortifrúti como pimentão e berinjela, ele e a esposa agora vendem seus produtos em feiras e para o varejo do município.
— O meu principal motivo foi a despesa. Para vender na Ceasa, eu gastava R$ 150 de combustível, precisava pagar um empregado para trabalhar na Ceasa, mais o box e alguém para me substituir na lavoura. Minha filha não quis seguir com a lida — explica Robinsohn, que vendeu por três anos na centrais.
Representante dos produtores da Ceasa, Finkler lembra ainda que o problema não é "apenas do campo":
— Pode afetar também a cidade. São esses produtores que abastecem a Capital. Isso pode refletir nos preços mais tarde, se a oferta diminuir.
Diante desse cenário, o diretor-presidente da Ceasa/RS encomendou à gerência técnica um planejamento de políticas públicas que visem reverter essa curva de redução de produtores — missão que lhe foi dada pelo governo do Estado. A ideia é buscar parcerias com entidades como a Emater e o Sebrae.
Entenda
- Para comercializar na Ceasa, o produtor precisa manifestar interesse no setor de cadastro da entidade
- Feito o cadastramento, ele recebe uma visita técnica, onde a Ceasa ou a Emater verificam a capacidade e o tipo de produção da sua propriedade
- Em um a dois meses contando o momento do cadastro, o produtor recebe a autorização para venda — que pode ser mensal, a partir da locação de um box, ou diária, por meio de um tíquete diário
- A comercialização de hortifrutigranjeiros funciona de segunda à sexta-feira, no galpão dos produtores — segunda das 5h às 10h, e de terça à sexta-feira, das 12h30 às 17h30
- Quase 70% de tudo o que é comercializado na Ceasa/RS é produzido no Estado