A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Os Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais, os chamados Fiagros, a cada ano ganham mais espaço como opção de financiamento do agronegócio. E a prova disso são os números: em 2023, o instrumento ligado ao setor produtivo alcançou R$ 8,8 bilhões em emissões, uma alta de 20,8% em relação ao ano anterior, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
A expressividade cresceu em todas as frentes. O patrimônio líquido dos Fiagros saltou 72% em um ano, para R$ 20,5 bilhões. A expansão acompanhou o aumento no número de fundos, de 51 para 86, assim como a quantidade de contas, que passou de 183 mil para 664 mil — avanço de 263%.
Já a captação líquida do instrumento, que é a diferença entre aportes e resgates, foi de R$ 3,8 bilhões em 2023, semelhante ao montante do ano anterior.
Os números superlativos consolidam não só a relevância dos Fiagros entre os investidores, mas também a sua importância para os produtores rurais. Semelhantes aos fundos imobiliários, eles têm se tornado atrativos pela rentabilidade que oferecem e pela solidez do agronegócio brasileiro.
O ganho é para os dois lados: assim como diversificam a carteira dos investidores, viram uma nova forma de financiar os negócios no campo, à medida que os recursos públicos de Plano Safra ficam mais direcionados aos pequenos e médios produtores.
— O potencial é enorme, e a consolidação desses fundos reflete a importância do agronegócio para a economia — avaliou o vice-presidente da Anbima, Sergio Cutolo, sobre a divulgação dos últimos dados.
Divido em três modalidades, os Fiagros podem ser investimentos em imóveis rurais (Fiagro-FII), em sociedades que explorem atividades relacionadas à cadeia agroindustrial (Fiagro-FIDC), ou em instrumentos financeiros de direitos creditórios (Fiagro-FIP), como os CRAs.
Atualmente, o instrumento funciona com base a Resolução CVM 39, em caráter experimental. Uma consulta pública sobre regras específicas para os Fiagros, realizada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), está aberta até o dia 31 de janeiro. A atualização será anexada às novas regras de fundos de investimento, a resolução 175, que está em vigor desde outubro de 2023. A expectativa é de que o instrumento amplie ainda mais espaço com a norma definitiva.
Lúcio Feijó Lopes, advogado e sócio-sênior do Feijó Lopes Advogados avalia que a regulamentação definitiva demonstra a potência dos Fiagros:
— A CVM viu que é uma indústria. O agro é um setor pujante que demanda capital, demanda crédito, e esse canal entre setor produtivo e investidores do mercado capital é uma via sem volta, ela só vai crescer e vai crescer muito mais.