A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Com a colheita de trigo tecnicamente encerrada no Estado, a perspectiva de que a safra de inverno fosse recuperar as perdas do verão foi por água abaixo. Literalmente. Com a persistência da chuva desde setembro, mais do que o recuo de safra projetada em 30,5%, é a qualidade do cereal — e a baixa rentabilidade — que preocupa o setor.
— Para a maioria dos produtores, o prejuízo da safra de inverno vem a se somar a de verão — frisou Índio Brasil dos Santos, sócio-diretor da Solo Corretora.
É o que, no campo, percebe o técnico estadual da Emater Alencar Rugeri. A entidade ainda está calculando a redução de produtividade e de qualidade nos 1,5 milhão de hectares colhidos com o cereal — afinal, a colheita está em 98% da área, conforme último boletim da Emater. Mas, com base em levantamento anterior, Rugeri já afirma:
— Está muito ruim. Resta agora saber quanto.
O técnico da Emater também aponta a abrangência do problema no Estado como outro fator preocupante:
— Não há região que conseguiu salvar alguma coisa. O prejuízo é generalizado.
Com os trabalhos sendo finalizados no campo, o desafio segue para a indústria moageira. Além do preço menor a ser pago pelo cereal de baixa qualidade, Santos projeta um crescimento “como há muito tempo não se via” na importação de trigo, já que boa parte do que está sendo colhido no Estado não deve servir para panificação.
— Nós teremos de aproveitar a janela de exportação, destinar trigo para ração animal, principalmente para o sudeste asiático — acrescenta o sócio-diretor da Solo Corretora, sobre os mercados possíveis.
Para os próximos meses, a tendência é que o preço em baixa se corrija para aquele trigo de qualidade, projeta Santos. O problema é saber onde haverá.
No mês de novembro, os preços do trigo continuaram enfraquecidos por causa da entrada de trigo argentino no Brasil, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP.