Pressionada por fatores sazonais, como a entressafra (período entre o fim da colheita e o início do plantio), e pontuais, como preços internacionais, a cotação do arroz avança no mercado brasileiro, superando a barreira dos R$ 100 — patamar registrado anteriormente em dezembro de 2020. Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Esalq/USP, elaborados em parceria com o Instituo Rio Grandense do Arroz (Irga), mostram que, nos últimos 30 dias, o aumento no preço médio da saca de 50 quilos chegou a 13,21%, passando de R$ 88,99 para R$ 100,75. O valor desta segunda-feira (18) representa leve recuo, de 0,11% em relação ao de sexta-feira (15).
Há diferenças, no entanto, em relação ao avanço atual e o verificado em 2020, quando a pandemia impôs uma nova ordem mundial. Neste momento, a valorização tem sido constante, mas em um ritmo menos veloz, pondera Ailton dos Santos Machado, diretor comercial do Irga. Ele explica que, para além do período de entressafra, que inclui os países do Mercosul, restrições como a adotada pela Índia, maior exportador global de arroz, puxaram as cotações para cima. Os indianos têm limitado os embarques aos contratos que haviam sido firmados. A colheita dos Estados Unidos também está recém iniciando. Com menos produto no mercado, há a valorização. Sobre o cenário atual, faz uma ressalva:
— O valor está em alta em relação a um preço que estava desestimulando o produtor.
Alexandre Velho, presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado (Federarroz-RS), acrescenta que "esse patamar de preços maiores pode reverter a curva de baixa na área dos últimos 10 anos". No atual sistema de produção, em que há rotação com soja e milho na várzea, busca-se um ponto de equilíbrio que remunere o agricultor. Diretor-executivo do Sindicato da Indústria do Arroz (Sindarroz-RS), Tiago Barata entende que essa adequação do cultivo pelo produtor, "diante da baixíssima viabilidade econômica da atividade", tem um peso importante no cenário atual:
— Temos argumentos pontuais, como a valorização do arroz no mercado externo, com a restrição das exportações na Índia, e o aumento dos custos logísticos (diesel), mas vejo como principal justificativa para essa alta uma mudança estrutural no setor. Nas últimas safras, cultivamos no Brasil as menores áreas da história, adequação natural do produtor diante da baixíssima viabilidade economia da atividade. Esse encolhimento também ocorreu no Uruguai e Argentina, tradicionais alternativas de abastecimento.
Velho diz que essa "falta" de arroz no Mercosul tem ajudado a impulsionar as cotações:
— Os grandes centros que se abastecem no bloco estão comprando no RS e em SC.