A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Em tempo de São João, o trabalho no campo para garantir o sabor às festas típicas de junho não para. Do amendoim torrado ao pinhão, os principais pratos da data têm como base produtos da pequena agricultura que ganham preferência nacional. Confira alguns:
Amendoim vem de fora do Estado
Doce ou salgado, no bolo ou na paçoca, no pé-de-moleque ou na rapadura, o amendoim é um dos principais ingredientes que compõem as receitas quando o assunto é festa junina. Ainda que no Rio Grande do Sul a produção seja pequena — de quase três mil toneladas apenas e 1,7 mil hectares, conforme o IBGE de 2021 — e boa parte venha de São Paulo e do Paraná, há municípios gaúchos que se destacam com a leguminosa.
O principal produtor, por exemplo, é Venâncio Aires, conforme o mesmo levantamento. Mas é no Litoral Norte, em Santo Antônio da Patrulha, que a produção de um dos produtos que leva o amendoim como base, a rapadura, se destaca. Tanto que é na região do município que se concentram as principais fábricas do produto, a Da Colônia, Guimarães e Santo Antônio.
Técnico agrícola que atua há 42 anos no escritório municipal da Emater de Santo Antônio da Patrulha, Flademir Schmidt explica que o principal entrave para aumentar a produção é a falta de maquinário para colheita e ataque de lebres.
— A agroindústria familiar daqui acaba produzindo só o melado para as empresas fabricarem a rapadura — acrescenta o técnico.
A produção de amendoim em Santo Antônio da Patrulha é para consumo próprio, feita em morros, por famílias de origem italiana e alemã. No caso da cana-de-açúcar (matéria-prima para o melado), 30 das 650 famílias assistidas pela Emater no município tem plantio, cada uma com até quatro hectares.
Há 70 agroindústrias cadastradas no Programa Estadual de Agroindústria Familiar. Elas estão distribuídas em todo o Estado, mas, principalmente, nas regiões Norte, Litoral e Fronteira Noroeste.
Milho pipoca perde área no Estado
A pipoca é outra pedida no arraial. Só que, no Rio Grande do Sul, a produção também é bastante pequena. Na avaliação do engenheiro agrônomo do escritório municipal da Emater em Nova Prata, José Otávio Varella, os agricultores têm perdido interesse no cultivo ano após ano:
— Deixou de ser interessante plantar milho pipoca com o transgênico.
Varella também cita a saída da General Mills, dona da marca Yoki, do Estado como outro fator que desestimulou o plantio. O técnico, aliás, vistoriava lavouras para a empresa em municípios na região.
Em Picada Café, a Emater tem registro de um produtor que produz o grão orgânico em dois hectares e o comercializa para uma cooperativa.
Típico do Sul, pinhão ganha espaço à mesa
No Sul, o pinhão também é item tradicional no cardápio de São João. Tanto que as vendas aumentam nesta época do ano, afirma o coordenador do programa florestal da Emater, Antonio Carlos Leite de Borba.
— O pinhão tem uma aderência muito forte à cultura das festas juninas no Sul do Brasil. É muito comum. Até porque é a época do ano de maior disponibilidade da semente — explica.
E, além de tradicional, é uma renda importante para diversas famílias gaúchas na Serra, já que a colheita ocorre durante uma entressafra de produção na região, continua o técnico.
No Rio Grande do Sul, a produção é a terceira maior do país, com 1 mil toneladas em 2021, de acordo com o IBGE. São Francisco de Paula é, historicamente, o principal município da semente, com 160 famílias envolvidas e um volume de 140 toneladas. Neste ano, no entanto, a Emater estima uma produção de 70 toneladas.
— A combinação de déficit hídrico pela estiagem com a característica de alternância a cada três anos da espécie diminuiu a produção — esclarece ainda Borba.
Quentão feito com matéria-prima das agroindústrias
Tradicional bebida de festa junina, o quentão pode ser feito tanto com vinho quanto com cachaça. No Rio Grande do Sul, a produção das duas bebidas fica pelo menos em parte a cargo das agroindústrias familiares.
No caso do vinho, há 84 agroindústrias produtoras cadastradas no Programa Estadual de Agroindústria Familiar. Metade delas estão concentradas na serra gaúcha. As outras se espalham por regiões como a central, o norte e o médio Alto Uruguai.
Já em relação à cachaça, são 11 empreendimentos em diferentes locais.
E, além do São João, a comemoração das agroindústrias nessa época do ano também ocorre pelas vendas, que aumentam, avalia o coordenador do Núcleo de Desenvolvimento Econômico da Gerência Técnica da Emater, Júnior Lopes dos Santos:
— A tradição desta época dos festejos juninos, juntamente com o clima frio do nosso Estado, faz aumentar o consumo do quentão que usa o vinho e a cachaça.