A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Se a Copa do Mundo fosse entre commodities, com quais “atacantes” cada país entraria em campo? No ritmo do maior evento de futebol do mundo, que começa neste domingo, no Catar, a coluna expande as fronteiras para além do futebol. De tão grandioso, o evento ultrapassa as linhas do gramado e desperta interesse sobre as mais diversas áreas como cultura, economia e os costumes das seleções participantes. Entre elas, por que não, o agronegócio.
No campo que diz respeito à produção agrícola, buscamos saber quais são as riquezas com que cada adversário do Brasil compete. Para isso, consideramos o levantamento mais recente da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, em inglês), de 2020, que lista os principais produtos de cada país em termos de quantidade de produção.
Embora oponentes diretos na Copa, os países da chave do Brasil pouco rivalizam entre si na cancha que compete ao agro. E os motivos para isso são as inúmeras diferenças entre eles, tanto geográficas quanto econômicas, explica o economista e pesquisador do Departamento de Economia e Estatística (DEE) da Secretaria de Planejamento do RS, Sérgio Leusin Júnior, que ajudou a fazer a análise:
— São países bem diferentes tanto em tamanho quanto em renda, além de população e da própria localização geográfica. É o mundo, mesmo. Dá para dizer que está cada um em um canto.
Além disso, nem todos os produtos agrícolas são considerados commodities, ou seja, moedas de comercialização internacional. Para competir no quesito global, outros pontos fortes entram em campo no time de cada país. Bem como as suas fraquezas, ou seja, a dependência da importação de alguns itens para o consumo interno.
A seguir, confira a seleção agrícola do Brasil, dos seus adversários, e do anfitrião da Copa 2022:
Brasil
Há mais de 500 anos movimentando a economia nacional, o atacante canarinho no critério produção é a cana-de-açúcar. Somente em 2020, foram produzidas 757,1 milhões de toneladas. O país, aliás, é o maior produtor mundial da planta. Da cana, se faz o açúcar e o álcool, esses sim considerados commodities. Entre os produtos com importância de exportação, o suco de laranja desponta. O Brasil responde à mais da metade da produção mundial da bebida, com participação de 57,5%. A soja e o café aparecem na sequência para completar o time.
Suíça
Reconhecida pelos queijos e chocolates, a Suíça se destaca no campo com o leite bovino. Foram 3,7 milhões de toneladas produzidas em 2020. O pequeno país de 41 mil km² tem 38% do seu território dedicado ao agro, mas quase tudo o que utiliza como matéria-prima vem de fora, pois a sua vocação é a manufatura. Dentre as poucas commodities destinadas à exportação, grãos mistos, pêra, açúcar e cevada são destaques.
Camarões
Quem lidera o time de Camarões é a mandioca. A raiz é o item mais produzido pelo país do centro-oeste africano. Em 2020, foram produzidas 4,8 milhões de toneladas. A mandioca faz parte dos principais pratos camaroneses, como o ndolé (camarões ou peixe apimentado e servido com amendoins, banana e mandioca). Apesar disso, não é um produto comercializado com outros países. Neste quesito, o sorgo, o amendoim em grão e o óleo de amendoim comandam o time.
Sérvia
O milho é o ponto forte da Sérvia quando o assunto é o que o país mais produz em campo. Ligeiramente menor que Santa Catarina e recém-independente, o país tem buscado destaque no agronegócio e, em 2020, produziu 7,8 milhões de toneladas do grão. O produto é voltado tanto para consumo humano quanto para a alimentação de animais. E também é exportado. Aliás, as exportações de trigo e milho da Sérvia caíram significativamente neste ano por causa da guerra Rússia-Ucrânia. Outros produtos de pauta são cerejas e derivados de girassol como óleo e farelo.
Catar
País-sede da Copa do Mundo de 2022 e um dos maiores produtores mundiais de petróleo, o Catar tem como atacante no jogo do agro a carne de frango. Só em 2020, foram 34,7 mil toneladas produzidas. Volume que, no entanto, não supre a sua demanda interna. O país depende externamente de quase 80% do frango que consome. Nos dez primeiros meses de 2022, o Catar aumentou em 40% o volume de carne de frango comprada do Brasil.
*Colaborou Carolina Pastl