A aproximação do cultivo do milho e dos cereais de inverno com o porto de Rio Grande abre espaço também para uma nova fronteira de produção de aves e suínos. Por um motivo simples, explica Francisco Turra, presidente do conselho consultivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA): são insumos fundamentais à ração dos animais. O tema esteve à mesa do auditório central do parque da Expodireto nesta quarta-feira (8), durante o Fórum do Trigo.
— Por que a indústria não ia para perto do porto? Porque não tinha comida (para os animais) — disse Turra, já que do ponto de vista logístico essa proximidade representa facilidade de acesso e redução de custos.
Boa parte desse caminho tem sido aberto pela ampliação da safra de inverno, com o incentivo recebido com o programa Duas Safras. Com resultados que aparecem em números: a área cultivada com o trigo no Estado em 2022 atingiu o maior patamar desde a década de 80, com 1,43 milhão de hectares, o que resultou em volume recorde de 5,17 milhões de toneladas.
Para este ano, há potencial para repetir ou até mesmo fazer crescer o espaço da cultura, diante de nova frustração com a safra de verão, observa Tarcísio Minetto, coordenador da Câmara Setorial do Trigo da Secretaria de Agricultura do Estado. Os limitadores poderão vir da restrição de crédito e das taxas de juro.
Por outro lado, a busca por renda e as alternativas de mercado que se colocam reforçam a aposta nos cereais de inverno. Além da indústria moageira e de proteína animal, a produção de etanol (com dois projetos em andamento no Estado) aquece o mercado. Há ainda a exportação.
— O trigo tem três destinações: consumo humano, animal e energia. É difícil produto que tenha essa possibilidade. São alternativas — pontua Élcio Bento, analista da Safras & Mercado.
Para chegar em todas essas oportunidades, a pesquisa tem um papel fundamental. Jorge Lemainski, chefe-geral da Embrapa Trigo, diz que há ofertas de genética que avançam com "soluções tencológicos fortes, seja para pastejo direto, silagem, grão ou ração".
— O espaço da pesquisa é o aprimoramento para atender à demanda mercadológica e nos manter competitivos.