Depois de se consolidar como o maior exportador de carne de frango halal do mundo — produto elaborado segundo preceitos islâmicos e permitido para consumo muçulmano, o Brasil agora busca a mesma posição para a carne bovina. Para o ano de 2023, a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB) estima um crescimento de 10% nas vendas. Considerando o número de empresas certificadas, só a certificadora CDIAL Halal, uma das principais do país, projeta um crescimento de 100%, incluindo o Rio Grande do Sul, Estado reconhecido pela tradição na pecuária bovina.
— O consumidor já confia no nosso produto. O preço também é bastante competitivo. Agora, fica fácil crescer — estima o diretor de operações da CDIAL Halal, Ahmad Saifi.
Mas não é só de dentro do balcão que vem a previsão de alta. Saifi também atribui a isso a demanda do mercado consumidor, no caso, a população muçulmana. Atualmente com 1,8 bilhão de pessoas, a expectativa é de que vire um terço da população nos próximos 10 anos. Em outras palavras, mais mesas para servir a proteína.
A projeção de alta é em cima de um ano de crescimento, vale salientar. Só no ano passado, o Brasil exportou para a Liga Árabe, composta por 22 países, 237,2 mil toneladas de derivados bovinos, volume que cresceu 10,45% sobre o registrado em 2021 e é o maior da série histórica da CCAB. Deste total, 4,02 mil toneladas saíram do Rio Grande do Sul, uma alta de 86,36%.
O aumento nas vendas ocorreu por causa do crescimento da demanda nos principais países compradores e também pelo ingresso de novos clientes no rol de compradores, como a Líbia, a Palestina e o Bharein.
Para a carne bovina ser halal, precisa passar por regras de sanidade e rastreabilidade e seguir os princípios do Alcorão, livro sagrado da religião. Os cuidados começam desde o campo, com o bem-estar animal. O tratamento não pode ser agressivo e o animal precisa estar bem alimentado, por exemplo. Na hora do abate, a insensibilização deve ser feita para deixar o animal inconsciente apenas — não para matá-lo. Já inconsciente, o abate precisa ser feito por um muçulmano, com o animal voltado para Meca, e com um corte único e bilateral no pescoço, com uma faca afiada e limpa.
— O abate é uma adoração a Deus. É sagrado porque é uma ação para alimentar as pessoas — explica Saifi.
*Colaborou Carolina Pastl