A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
A aparição de uma praga em plantações de citros de Santa Catarina acendeu um alerta no Rio Grande do Sul. As ocorrências foram registradas em pelo menos três municípios catarinenses, e preocupam em função da proximidade com o Estado.
A praga em questão é o greening, uma doença provocada por bactéria e que tem um inseto como vetor. Seu efeito nas plantações é devastador, já que leva à morte da planta e não há manejo para combater a doença.
— Não existe cura para essa praga. É perda total. A doença inviabiliza a planta, acarreta em queda da fruta, que não presta para mesa e nem pra suco — alerta a fiscal estadual agropecuária Rita Antochevis, chefe da Divisão de Defesa Sanitária Vegetal da Secretaria da Agricultura do Estado, sobre o perigo da doença.
As discussões nesse momento são preventivas, de modo a evitar que o greening se espalhe pelo Rio Grande do Sul e provoque danos nas produções.
O caso foi tema de reunião com equipes da Agricultura, na quinta-feira (10), na qual se definiu um programa de ações. Para contribuir com a troca de informações, também participaram da reunião representantes do Paraná, que explicaram o que é feito para conter a praga, e de Santa Catarina, que contaram como fizeram para detectar a doença.
Dentre as medidas, foi levantada a necessidade de uma fiscalização rigorosa nas divisas do Estado. Segundo Rita, o inseto transita em meio a folhas e ramos que entram no Estado de maneira irregular pelo transporte das cargas. O animal sobrevive até 20 dias nessas folhas.
— Nos preocupa porque essas cargas vão muito para o Vale do Caí, por exemplo, que é justamente a nossa região produtora de citros — diz Rita.
Rodrigo Gossler, produtor de citros e presidente da Associação dos Citricultores de São Sebastião do Caí (Caicitros), reforça a necessidade de maior fiscalização dos produtos que vêm de fora do RS.
— Existe o maior cuidado com o que sai do nosso Estado para frear as doenças daqui para lá. Mas de lá para cá, sabemos que vem de qualquer jeito. Não é nada higienizado, as laranjas vêm com folhas. Falta barreira sobre o que vem de fora — diz Gossler.
O produtor lembra que foi desta maneira que o RS passou a lidar com o cancro cítrico, nos anos 2000. A doença também se espalhou no Estado devido ao transporte irregular. No caso do cancro, porém, a poda no local afetado permite que a planta volte a crescer saudável. No caso do greening, não.
— Como é uma doença nova para nós, ainda não temos muito conhecimento. Talvez o frio ajude a frear, acho que temos o clima a nosso favor. Mas as medidas são urgentes — reforça Gossler.
Em São Paulo, Minas Gerais e no Paraná, há incidências anteriores da doença. O Rio Grande do Sul é o único Estado da região Sul que não registra casos de greening.
Outra medida de contenção passa por alertar os agricultores sobre a compra de mudas. É preciso que as plantas sejam certificadas, com indicação que comprove que estão isentas de doenças. O alerta serve para a população em geral. Rita recomenda que as pessoas evitem de trazer mudas em viagens, sobretudo de outros Estados. O transporte não fiscalizado pode trazer plantas contaminadas para dentro do Estado, espalhando a doença.