Daqui para a frente, a tendência é de que o preço pago pelo consumidor pela carne suína pare de subir. A projeção, que vem do presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, reflete, principalmente, a entrada da segunda safra de milho do país. A colheita, estimada pela Conab em 87,41 milhões de toneladas, avança, reforçando o quadro de oferta do produto, que é um dos principais ingredientes da ração.
— O milho está baixando um pouco, consigo ter um processo de estabilidade maior de preços. Mas não é só o grão que entra no custo — pondera o presidente da entidade.
Outros itens têm pesado na matemática das despesas, o que faz com que a perspectiva seja de manutenção e não de queda do valor do produto final, apesar da maior oferta do grão com a "safrinha":
— Um gasto muito pesado é o de embalagem, igual ao de nossos concorrentes.
O novo patamar dos custos, acrescenta Santin, é "algo que veio para ficar". No item nutrição, o momento é de fôlego, depois de um 2021 em que o setor enfrentou uma dupla pressão em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, observa Marcelo Miele, pesquisador da Embrapa Suínos e Aves:
— O ano passado foi pesado para todos os países, a gente vê isso no crescimento percentual, mas o Brasil teve um efeito duplo na pressão desses custos. Foi impactado pelas questões climáticas e pela valorização (global) das commodities.
Dados do Grupo para Comparação dos Custos de Produção na Suinocultura (InterPIG) divulgados pela Embrapa mostram que houve avanço percentual do valor, em dólares por quilo vivo, em todos os países destacados (Alemanha, Brasil, Canadá, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos e Holanda). Na média do indicador, o aumento de 2021 sobre 2020 foi de 17%. Na do Brasil, considerando SC, foi de 24,7%. Tendo o Mato Grosso como referência, 20%.
A rede InterPIG envolve instituições e institutos de pesquisa, que buscam harmonizar metodologias e fazer comparação entre os principais produtores de carne suína. É integrada por 18 países. Os custos avaliados, observa Miele, referem-se ao que é gasto dentro da porteira. Onde o Brasil fica em um patamar competitivo, com um valor numérico semelhante aos EUA (US$ 1,16 por quilo vivo). O problema é que fora da porteira essa igualdade vai se perdendo para pontos como a logística de um país com tamanho continental.
É por isso que o setor privado tem buscado alternativas, como o uso de ferrovias no transporte.