Houve um tempo em que a lã de ovelha reinou absoluta no mercado têxtil, mas com o advento dos fios sintéticos acabou perdendo a coroa. Uma realidade que persiste, com produtores deixando, ano após ano, a atividade. E é com o propósito de dialogar sobre os desafios do segmento que a Federação das Cooperativas de Lã do Brasil (Fecolã) organizou a programação da 45ª Expointer, quando também celebra 70 anos da sua fundação.
Presidente da entidade, representando as cooperativas de Lãs Mauá, Lãs Quaraí e Lãs Tejupá, Leocádio Bardallo aposta em desenhar uma saída. Para a troca de ideias, colocará à mesa três almoços — com produtores de ovinos, indústria e políticos.
Uma das apostas é o programa de certificação da lã gaúcha da Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco). A ideia é relativamente simples: mudar o método de esquila (para o chamado “tally-hi”) e de acondicionamento da matéria-prima para haver maior valor agregado (para sacos de plásticos).
— A indústria só compra hoje lã pura. Os nossos rebanhos têm alta qualidade, mas os produtores, na hora de fazer a esquila, acabam muitas vezes depreciando a matéria-prima (misturando cores ou a lã principal, do corpo, com a das patas e das pernas) — explica Sérgio Muñoz, técnico responsável pelo programa.
Segundo ele, que também é criador e tem propriedade em Herval, a certificação possibilitou um valor de lã de 10 a 15% maior que o mercado.
— A indústra já está sinalizando isso. Quem não aderir, vai ficar para trás — acrescenta.
Outra dificuldade em que o setor esbarra atualmente é na mão-de-obra para essa esquila. No programa, há apenas cinco profissionais certificados. A Arco já está organizando cursos com o Senar-RS para isso.
Na indústria, o presidente da Fecolã quer propor que se desenvolvam novos produtos, para haver demanda.
— A lã grossa (da raça corriedale, que compõe 60% do rebanho gaúcho) concorre diretamente com o poliéster. A lã fina (das raças merino e ideal) é um mercado a parte, que devemos explorar — acrescenta Muñoz .
Para o Legislativo, o recado que Bardallo quer dar é financeiro: como a lã está em baixa, as cooperativas precisam de auxílio para se manterem. Algo visível em números: onde antes a Fecolã congregava 23 cooperativas, hoje, restam apenas três.
— É um dos poucos setores que, depois da pandemia, ainda não conseguiu se recuperar. Queremos que toda a cadeia produtiva vista a nossa camisa — resume o dirigente.
Saiba mais
- O Rio Grande do Sul chegou a ter um rebanho ovino de cerca de 12 milhões de animais na década de 70. Em 2020, segundo o IBGE, estava em quase três milhões de cabeças. No mesmo ano, a produção de lã foi de 7,5 milhões de toneladas.
- O programa de lã certificou no ano passado 15 mil quilos de lã de 15 produtores gaúchos. Neste ano, a projeção é chegar aos 100 mil quilos e 30 produtores.
*Colaborou Carolina Pastl