Com a colheita cada vez mais perto do final – chegou nesta semana a 70% da área semeada – o Rio Grande do Sul vai desenhando uma nova marca histórica para o trigo. As 3,55 milhões de toneladas previstas no dado divulgado ontem pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) são um recorde, batendo o até então melhor resultado, que era de 2013. O volume esperado já foi maior – na comparação com o levantamento anterior, o órgão revisou o número para baixo.
O fiel da balança virá do Norte e dos Campos de Cima da Serra, de plantio tardio e que, portanto, tem produto por colher.
– Resta ver o que vai acontecer com o trigo nessa região – observa o superintendente da Conab no RS, Carlos Bestétti.
Com relação à redução na estimativa de produtividade (que passou de 55,03 para 51,6 sacas por hectare) e de produção, aponta a falta de chuva na fase de enchimento de grão como um dos fatores responsáveis por essa revisão. De toda forma, os bons preços e os novos usos estimulados para o trigo fazem o superintendente avaliar que a retomada da área plantada para um patamar acima de 1 milhão de hectares “veio para ficar”.
– O pessoal está provando que o trigo pode ser usado como ração animal – reforça Bestétti.
Também divulgado ontem, o boletim do IBGE (que trouxe ainda a primeira projeção para 2022), o Rio Grande do Sul aparece como destaque da produção de trigo no país.
O volume previsto é de 3,6 milhões de toneladas, o que representa aumento de 69,1% sobre o resultado do ano passado. E um resultado que, se confirmado, leva os gaúchos à primeira posição no ranking nacional, superando o Paraná.
O Estado teve problemas climáticos, que encolheram em 8,2% o resultado anteriormente esperado. Em área, o Brasil teve um aumento de 15% no espaço da cultura.
Quase sete décadas de cultivo
Em Campinas do Sul, às margens da barragem do rio Passo Fundo, no Alto Uruguai, os irmãos Norberto (no centro da foto acima), João Roberto (E) e Manoel Antônio Gomes comemoram os resultados da safra de trigo. Com 60% dos 260 hectares cultivados colhidos, contam produtividade em torno de 70 sacas por hectare, acima da média do RS. Com volume e área um pouco maiores, Manoel Antônio avalia que a marca deste ano ficará por conta de outro item:
– A qualidade é o que está sendo o diferencial, apesar da chuva acima do esperado em outubro. A rentabilidade está um pouco menor, porque os insumos estavam mais caros.
A aposta da família na cultura soma quase sete décadas. Nesse período, nunca deixou de cultivar trigo, mesmo quando as previsões climáticas e o mercado não eram favoráveis. Segundo Manoel, a tradição foi passada pelo pai, Antônio Manoel, e os tios Faustino e Luís Gomes:
– Desde 1955, quando começaram o plantio na região, sempre entenderam o cereal como uma forma de não esgotar e, consequentemente, proteger o solo, por meio da rotação de culturas, ao mesmo tempo que rentabilizariam a área.
*Colaborou Carolina Pastl