Com a colheita de trigo no Rio Grande do Sul começando a ganhar ritmo a partir de agora, alguma certezas aparecem pelo caminho, bem como algumas preocupações. O grande volume de precipitação acumulado nos últimos dias fez produtores acelerarem o trabalho das máquinas antes da próxima chuva cair. O excesso de umidade nessa etapa pode afetar a qualidade. E com o atual cenário, de preços ainda remuneradores apesar dos custos em alta, toda perda interfere em rentabilidade.
O alento, nesse caso, vem da previsão do tempo. Depois desta semana, a perspectiva é de que fique mais seco, favorecendo a parte final do ciclo de inverno.
– Quando o trigo está na maturação plena , muita chuva costuma reduzir PH – explica Marcelo Klein, engenheiro agrônomo da Embrapa Trigo.
De forma geral, observa Klein, o período de pouca umidade entre julho e agosto foi benéfico para a cultura. Associado ao frio, com temperaturas abaixo da média histórica para o período, isso ajudou a garantir a sanidade das plantas, limitando a proliferação de pragas e doenças. Também ajudou o investimento dos agricultores na proteção das lavouras do cereal.
– A primeira coisa positiva dessa safra foi a época da semeadura. Neste ano, concentrou-se em junho.
Os produtores estavam receosos e plantaram um pouco mais tarde. É que na safra de 2020 perdemos 1 milhão de toneladas de trigo em um dia (referência à geada em 21 de agosto) – acrescenta o agrônomo.
Por enquanto, com um percentual pequeno colhido – 3% no último boletim da Emater, que hoje divulga atualização – o otimismo persiste. A safra foi revisada para cima no final de setembro para 3,6 milhões de toneladas de trigo. Se confirmado, será novo recorde.
Há, no entanto, pontos do Estado em que o longo período sem chuva foi um problema, com efeitos potencias sobre a produção. Na região de Santa Rosa da Emater, que engloba 45 municípios e soma 270 mil hectares cultivados com trigo, há previsão de perdas. Em torno de 10% sobre a expectativa inicial.
– Teve localidade que ficou 50, 60 dias sem chuva. Isso prejudicou a adubação nitrogenada. Também houve um pouco de problemas com a geada – explica Jose Vanderlei Waschburger, gerente regional da Emater de Santa Rosa.
Os danos eventuais, pondera Hamilton Jardim, da Comissão de Trigo da Farsul, não devem comprometer o abastecimento da indústria moageira:
– Teremos trigo para abastecer todos os mercados, porque a produção será muito acima do que RS consome. Teremos para a indústria, para a exportação e para a ração.