A produção de banana orgânica tem atraído nos últimos anos pequenos agricultores do Litoral Norte gaúcho, que até então trabalhavam no sistema convencional. De 2015 para 2021, o incremento foi de 312%, de acordo com dados da Associação Ecovida de Certificação Participativa e do Centro Ecológico. Hoje, são 265 famílias que produzem 15 mil toneladas da fruta por ano.
Segundo o técnico do Centro Ecológico Cristiano Motter, essa migração ocorreu por causa de um aumento de demanda do mercado. Para se ter uma ideia, só em 2020, esse setor cresceu aproximadamente 30%, conforme a Organis. No caso do Litoral Norte, o que estimulou esse nicho foi uma maior procura pela população em geral, o que motivou negócios entre os agricultores e a rede de supermercado Zaffari e programas públicos, como o de Alimentação Escolar. Até então, o único ponto de comercialização dessas famílias era nas feiras.
— Tendo uma estratégia comercial, como está acontecendo agora, as famílias começam a ter coragem de fazer essa transição de sistemas — observa o técnico.
A ideia que se tem de que a fruta orgânica, por ter um maior valor agregado, acaba sendo o que atrai os produtores para o cultivo não necessariamente corresponde à realidade neste caso. Segundo Motter, há feiras locais em que a banana orgânica é negociada por valores inferiores a banana no sistema convencional.
Como tudo começou
A convite do movimento da Igreja Católica Pastoral da Juventude Rural (PJR), o Centro Ecológico, que funciona como uma ONG, apresentou aos jovens do município de Torres ideias de agroecologia na década de 90. Isso estimulou o surgimento de outros grupos, e esse boca a boca ocorre até hoje. Atualmente, além de cursos, a organização presta uma assessoria técnica, que pode ser gratuita ou cobrada, dependendo do saldo financeiro do período, já que ela se mantém com recursos de editais públicos e doações.
Dentro da assessoria técnica, uma ideia que é trazida aos agricultores é associar as bananeiras à Mata Atlântica. Esse manejo protege o pomar de vento e frio, diminui doenças e aumenta a fixação de gás carbônico no solo, o que reduz o volume de adubo a ser comprado, porque aumenta a matéria orgânica do solo. Atualmente, 56 famílias adotaram esse manejo, o que representa 21% das propriedades produtoras de banana orgânica no Litoral Norte.
*Colaborou Carolina Pastl