A jornalista Bruna Oliveira colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Posicionado junto aos jurados e com microfone em mãos, o narrador Bruno Silveira tem o importante papel de descrever em detalhes e de contar à plateia tudo o que acontece em cada prova da raça crioula. Narrador oficial da Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC), ele divide o ofício entre os negócios no campo e a sua criação de cavalos. Na locução, carrega o seu quinto Freio de Ouro na bagagem – momento mais importante da raça, quando os grandes campeões do ciclo são conhecidos –, e conta que a emoção da primeira final, em 2017, ainda é inesquecível.
– Atravessar aquela pista e estar tudo lotado... chega a dar um arrepio. Até hoje é a mesma sensação – conta.
Confira abaixo trechos da entrevista sobre o seu trabalho:
Como começou neste ramo?
Comecei em Camaquã, onde eu moro. O narrador oficial da ABCCC do núcleo de Camaquã era o Luiz Mário Azambuja. Sempre me inspirei nele e fui incomodando para começar a narrar, começando pelos Jovens. Assim fui pegando o gosto, até que um dia ele disse: estou me aposentando, agora é tu que vais narrar o núcleo de Camaquã. Daí comecei, fomos indo, até que recebi o convite da ABCCC, há cinco anos. Comecei narrando uma classificatória de Paleteada, em abril de 2017. De lá para cá, eu tenho feito todas as provas da raça.
E de onde vem esse gosto?
Pelo cavalo, mesmo. Estava enturmado com o pessoal do núcleo, e assim fomos indo e começando.
Como é a experiência de narrar? A gente pode comparar às narrações tradicionais de esporte?
É uma narração mais focada, porque na prova tem que estar atento todo o tempo, não dá para se desconcentrar. E é muito técnica a prova. É diferente para narrar. Não é que seja complicado, mas é focado naquilo.
Qual narração mais te marcou?
O primeiro Freio de Ouro que narrei foi em 2017, e para mim esse foi um marco, tanto pessoal como profissional na narração. Em virtude de sair de uma prova de mangueira, em um domingo do Freio, aquelas arquibancadas lotadas no Parque Assis Brasil, em Esteio, na pista do cavalo crioulo. Atravessar aquela pista e estar tudo lotado... chega a dar um arrepio. Até hoje é a mesma sensação e emoção porque tem que estar focado. Aí tu olhas para o lado, vai falar para todo mundo que está ali acompanhando e quem está também acompanhando de casa pela transmissão. É diferente, dá arrepio no cara.
Como é ver a reação da plateia?
Quando os cavalos tiram uma nota muito boa, que os jurados levantam as placas e a gente vai falar a média, na prova de mangueira, por exemplo, parece que vem tudo abaixo, o pessoal vibrando, comemorando. Aquilo é fora do normal.
O amor por cavalos vai além da narração? Você também cria?
Sou criador há 17 anos. Começamos mais por esporte, porque queria montar cavalo crioulo. Hoje temos uma criação pequena. Mas corro prova também, o Freio do Proprietário, onde são os proprietários que montam as mesmas etapas do Freio. Sinto a emoção dentro da pista como competidor e fora da pista como narrador.
Além do Freio de Ouro, de que outras narrações você participa?
Narro as provas de paleteada, campereada, ranch sorting, Freio de Ouro, Freio do Proprietário, Freio Jovem, Movimiento a La Rienda... Todas as provas oficiais da raça.
O que é preciso ter para se destacar nesta área?
Eu recebo vários contatos do pessoal querendo também narrar e perguntando o que eles devem fazer. Em primeiro lugar, tem que ter foco, concentração e determinação. E ter gosto pelo cavalo e pelas provas. Tem que começar narrando as provas de núcleo e ir pegando aprendizado, pegando tudo para estar hoje dentro da Associação. Ninguém é imortal, uma hora eu também vou parar de narrar. Tem que fazer contatos para estar no meio.