Um novo capítulo da história do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) acaba de ser escrito pela paulista Flávia Miyuki Tomita. Natural de Araçatuba, terra em que o agro reina por entre a produção de cana de açúcar, Flávia encontrou uma carreira no Rio Grande do Sul e, anos depois, tornou-se a primeira mulher, em 81 anos de história, a assumir a diretoria técnica da autarquia. Se dizendo orgulhosa e, ao mesmo tempo, ciente da responsabilidade, a engenheira agrônoma fala sobre a escolha da profissão e o caminho que a levou até as lavouras gaúchas. Confira abaixo trechos da entrevista.
Como escolheu a profissão de engenheira agrônoma?
Sou de Araçatuba (SP), uma cidade em que a economia gira em torno do agro, da cana e da pecuária. Meus avós foram feirantes, mas não vivi essa época. Venho de uma família de administradores, advogados e bancários. Na época da escolha da profissão, optei pela Agronomia, na Universidade Estado Paulista (Unesp). Toda formação final foi voltada para a cana. Cheguei a ficar seis meses como trainee em uma estação experimental da cultura. Depois, trabalhei com controle biológico.
E como foi parar no arroz?
Meu marido veio trabalhar em Porto Alegre. Nos mudamos em 2010. Em 2013, fiz o concurso para o Irga. Um ano depois, estava iniciando a atividade. Comecei no laboratório de sementes. Em 2016, assumi a seção e, em 2017, a gerência de pesquisa. Agora, a diretoria técnica. Vejo que a produção de alimentos é algo muito nobre, principalmente trabalhando com o arroz, que é a base.
E como foi a transição da cana para a o arroz?
Quando entrei (no Irga), fiz especialização em Ciências e Tecnologias de sementes na Universidade Federal de Pelotas. E tive a sorte de aprender muito com o pessoal que me acolheu dentro da instituição. Agora, faço doutorado em Fitotecnia, com ênfase em Sanidade Vegetal, na UFRGS.
O que pesou na sua escolha? E qual o bônus e o ônus de ser a primeira mulher no cargo?
Não fujo da responsabilidade. A gente, que trabalha no setor público, se parar no primeiro “não”, não faz nada. Tem de ter persistência, querer entender. Não pode desistir. Eu vesti a camisa. Me sinto orgulhosa de, em 81 anos de história, ser a primeira mulher. Mas, também, representando, porque tem muita mulher trabalhando no Irga. O peso é da responsabilidade. Que seja uma porta de entrada para as mulheres chegarem à diretoria. Fico orgulhosa, mas sinto responsabilidade, tem de fazer bonito.
Que perfil tem de ter um profissional da agronomia?
A pessoa tem de gostar de estar no campo, vendo as coisas de perto. Nada substitui isso. Um drone ainda não substitui um agrônomo. Precisa gostar acordar cedo, do sol. Tem de usar a botinha de borracha, se sujar um pouquinho. O negócio do escritório com ar condicionado é depois.
Sobre a produção no RS, como a pesquisa pode ajudar a fazer o milho, assim como a soja, entrar na rotação com o arroz?
Precisamos ter cultivares adaptadas. Há bastante pesquisa, mas ainda falta. E mais investimento. Acredito que agora começam a se intensificar as pesquisas e que milho vá caminhar com a soja. A rotação é importante para manter as áreas de arroz viáveis.