Antes mesmo dos primeiros passos, Ricardo Wrege já demonstrava entusiasmo com os cavalos. De Jaguarão, onde a família tem um tradicional criatório, logo se conectou com os animais. Mas a naturalidade não substituiu a preparação. Pelo contrário. Treinou com ginetes consagrados e se formou médico veterinário.
– A gente tem de se preparar durante muito tempo para conseguir, lá na frente, colher algum fruto disso – destaca.
Com um centro de treinamento, o atual vencedor do Bocal de Ouro mira no inédito Freio de Ouro, principal prova da raça crioula. Leia trechos da entrevista sobre o caminho dele nas pistas profissionais.
Você é ginete e tem um centro de treinamentos de cavalos. Foi algo que sempre quis?
Venho de uma família na qual se respira cavalo. Meu pai tem criação de cavalos crioulos há quase 50 anos. Nasci e me criei no meio, a minha história tem mistura com os cavalos desde sempre. Desde muito pequeno, gostei de montar, tive muito amor por isso, uma certa vocação. Meus pais achavam que eu tinha um jeito diferente para mexer com os cavalos. E, desde muito novo, meu irmão mais velho e meu pai foram meus primeiros professores. Daí para frente, meio que me direcionaram ao mundo, para eu ir em busca de conhecimento e aperfeiçoamento. Para ver se era realmente a minha vocação, o que eu ia querer para minha vida.
E quando você começou a buscar essa preparação?
Muito novo, eu busquei outras modalidades, equitações, pratiquei hipismo durante anos, gineteada também, mas todo esse tempo sempre misturando e mesclando e dividindo o tempo entre os cavalos crioulos e entre o Freio de Ouro. Com 14 anos, saí de casa em busca de conhecimento no ramo. Fui a profissionais, do mais alto gabarito no nosso meio, que me acolheram de braços abertos, abriram as portas da sua casa e me ensinaram, passaram técnicas. São pessoas de extrema importância não só na minha carreira, mas na minha vida. Me ajudaram, assim como a minha família, a me formar não só como profissional, mas como pessoa.
Com quantos anos você começou a montar e que idade tinha quando percebeu o potencial?
Meu irmão relata histórias de quando eu era bebê de colo ainda, que me colocava na frente de um cavalo e eu começava a bater braço e perna assim, ficava desesperado. Já mostrava que tinha essa conexão com os cavalos de forma diferente. Com dois, três anos, comecei montando. Em seguida que comecei a falar, quando me perguntavam o que eu queria ser quando crescer, eu falava que queria ser domador, porque na época tinha um domador que cuidava da criação do meu pai e era meu maior ídolo. Em seguida que comecei a falar, quando me perguntavam o que queria ser, falava “domador”, porque na época tinha um que cuidava da criação do meu pai e era meu ídolo. Meu sonho era ser igual a ele. Quando tinha idade para buscar conhecimento, meu pai e meu irmão foram atrás desses profissionais. O primeiro que eu tive contato, foi o Zeca Macedo, que é meu maior mestre e uma pessoa a quem devo e respeito muito. No Freio de Ouro, fui atrás de tudo que acreditava em termos de técnica, de evolução dentro da prova e acreditando que ainda dava para aperfeiçoar mais, ir atrás de mais conhecimento. Morei seis meses nos Estados Unidos, tive intercâmbios no México, no Chile. Foi muito engrandecedor para minha formação como ginete e como pessoa.
A gente sente muito mais gostos amargos do que consegue saborear uma vitória.
RICARDO WREGE
Ginete e treinador de cavalos
E o curso de Medicina Veterinária?
Na minha família, só um dos meus irmãos não é veterinário. Eu não tinha muito a opção de não estudar, a gente sabe o quanto é difícil de dar certo na profissão de treinador, de se tornar um grande profissional nesse ramo porque são muitos. Se o resultado não vem, a gene acaba às vezes patinando, não conseguindo sair do lugar. E se estou me dedicando a algo, tenho de estar, pelo menos, entre os melhores ou poder almejar chegar entre os melhores.
Como é a rotina diária da profissão?
Muito intensa, a gente trabalha muito. Não tem dias de 40°C, de 0°C, de chuva, não tem feriado, nem hora para parar. O cavalo não é algo que tu pode tirar da tomada e ir embora. Os cuidados são permanentes. Gosto de levantar cedo, tomar mate, organizar a cabeça e o dia de trabalho. Às 7h, arrancamos trabalhando, até meio-dia, paramos, às 14h recomeços e vamos até terminar. Normalmente, entra a noite trabalhando. Cada cavalo que está ali tem a dedicação não só minha, mas de uma equipe inteira. Hoje, no centro, são cinco funcionários, cinco braços fortes que fazem com que tudo aconteça. Os cavalos são atletas que exigem um carinho todo especial e um comprometimento muito grande.
Para quem quer entrar nesse universo, qual seria o primeiro passo?
Humildade em buscar conhecimento. A pressa em colher frutos não é o caminho. Precisa buscar se aprimorar, ter conhecimento, vontade de aprender e muita perseverança. A gente sente muito mais gostos amargos do que consegue saborear uma vitória. Mas tudo isso é engrandecedor, temos de sentir esse gosto amargo para dar o devido valor. Tudo é aprendizado, vem para evoluir. E a gente nunca pode perder a vontade de evoluir e de crescer.