Na história do enólogo André de Gasperin, a expressão “a fruta não cai longe do pé” poderia ser aplicada apenas substituindo a última palavra por parreiral. Terceira geração de uma família dedicada ao cultivo de uva e à produção de vinho, cresceu e vivenciou o dia a dia do setor. Na hora de definir a profissão, logo se deu conta de que tinha de ser o que já fazia e gostava:
– Meus colegas do curso de Enologia brincavam que eu tinha nascido atrás de uma pipa de vinho.
Natural de Caxias do Sul, o atual presidente da Associação Brasileira de Enologia conta um pouco da rotina na atividade em mais um entrevista do Profissão Agro.
Estar no universo da uva facilitou a escolha da profissão?
Venho de família de produtores de uva e vinho, sou a terceira geração. Como cresci nesse meio, sempre trabalhei com isso, era uma coisa que me dava satisfação. Pensei, então, em me profissionalizar. Aí, veio a ideia da Agronomia. Como não existia nenhum curso naquela época na região, e eu gostava muito da área do vinho, procurei um curso superior de Enologia em Bento Gonçalves. Ingressei no Centro Federal de Educação Tecnológica (hoje Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia), mas já tinha vivência muito grande com uva e vinho. Meu pai tinha uma vinícola, tem até hoje, a qual estou tocando. Como já trabalhava com isso, tive a oportunidade de aplicar conceitos, tecnologias, ligar os dois mundos.
Na sua turma, a maioria tinha ligação com o setor?
Pelo que lembro, casos como o meu, que tinham experiência, eram poucos. Dava uns 10% a 15% da turma. O restante vinha de outros mundos. Tinha o pessoal que se apaixonou pelo vinho e largou outras profissões. E o pessoal mais jovem que buscava uma profissão diferente, queria algo mais ligado à área sensorial, de poder degustar vinhos, aprender.
E o que entra na formação?
Várias áreas, desde engenharia, alguma coisa de matemática, linhas de engenharia enológica. Uma área muito forte é a microbiologia, porque se trabalha muito com os microrganismos da uva e do vinho. Assim como a bioquímica, para os controles de fermentação. A química de maneira geral, a área de fisiologia vegetal, por causa da parte agronômica do cultivo da uva. Tem de abranger todas essas áreas para que o enólogo possa sair habilitado a fazer tudo isso.
Qual a diferença entre o enólogo e o sommelier?
O profissional com curso superior de Tecnologia em Vitivinicultura e Enologia é habilitado a trabalhar desde o cultivo da vinha, o manejo da uva até a ponta final, na comercialização. Está habilitado a ser o responsável técnico por uma indústria vinícola. O sommelier tem uma função mais específica, atua na venda, divulgação, harmonização e indicações de vinho. Não tem habilitação para fazer vinho.
Que perfil deve ter o enólogo?
A gente ouve muito “ah, sua profissão é muito bacana, passa o dia bebendo e degustando vinho”. Mas a realidade é muito distinta. Exige muita dedicação, estudo, conhecimento, para poder utilizar as melhores ferramentas para fazer essa transformação mágica da uva em vinhos, espumantes e outros produtos. Tem de ter aproximação com o agro também, porque uva e vinho fazem parte dele. É importante saber as principais línguas do mundo do vinho: espanhol, francês, italiano. E o inglês, de praxe. E ter aptidão sensorial.