Foi a profissão do pai que fez de Porto Alegre a cidade natal de Grazielle Parenti. E, depois, a levou à Brasília, onde cresceu. E a fez querer ser executiva. Entre a escolha do curso e a vice-presidência de Relações Institucionais, Reputação e Sustentabilidade da BRF, trilhou um caminho que “não é em linha reta”:
– A Luiza Helena Trajano (da Magazine Luiza), uma mulher que admiro muito, fala que as coisas acontecem para quem está em movimento. E eu sempre estive em movimento.
Primeira mulher a assumir o cargo atual, ela conta um pouco da sua trajetória dentro e fora do agro. Veja trechos da entrevista.
Sempre quis atuar no agro?
Eu tinha o sonho de ser executiva, não conhecia nenhuma mulher executiva. Meu pai era, de certa forma, um executivo, e eu falei “quero ser como meu pai”, aquela coisa de criança. Na hora de fazer faculdade, ele me perguntou o que iria fazer. Falei: “Quero ser executiva”. Me disse que deveria estudar Administração. Fui morar em São Paulo... E o caminho não é em linha reta. Ao contrário das mulheres da minha geração, não esperei a carreira consolidar para casar e ter filho. Foi bem difícil. Atuei em marketing por 10 anos. Há 15, enveredei para a área institucional. Trabalhei em mineração, siderurgia e, nos últimos 10 anos, na indústria de bebidas e alimentos.
Qual seu papel no atual cargo?
Vim para a BRF cuidar da diretoria de relações institucionais. Porque não basta a empresa ter um cliente na China e mandar uma carga com nota fiscal. O Brasil tem de ter acordo sanitário. Tem um processo regulatório a ser construído. Somos uma empresa global e tenho gente pelo mundo. Há um campo muito vasto também dentro do agro para a área internacional.
Qual o tamanho e o perfil do time sob seu comando?
No início do ano passado, assumi o Instituto BRF, nosso braço social, e desde janeiro, a comunicação e a sustentabilidade. O time total tem cerca de cem pessoas. Tem agrônomo, veterinário, advogado, jornalista, relações públicas, internacionalista. Somos uma área afim, precisamos de outras competências. Tenho pessoas locais no Oriente Médio, na China, Europa. Há uma diversidade de formação, de nacionalidade. Tem uma boa diversidade de gênero. Meu time é majoritariamente feminino, inclusive a liderança.
Temos 98 nacionalidades, uma formação também diversa de estudo, de origem. Isso é muito legal, porque traz também muita diversidade.
GRAZIELLE PARENTI
vice-presidente de Relações Institucionais, Reputação e Sustentabilidade da BRF,
Por que é um desafio a participação feminina na liderança, e uma mulher assumindo o comando ainda chama a atenção?
Eu vejo um avanço. Quando entrei, tinha menos mulheres. Hoje, vejo nos níveis de diretoria, a gerência executiva, muitas mulheres. Assinamos o pacto global da ONU para ter 30% de mulheres na liderança até 2025. Crescemos bastante, de um ano para outro, saltamos 40%. Saímos de 16% para 22%. A gente precisa normalizar o fato de ter outras pessoas, com caras diferentes, em uma decisão importante. Eu sou mãe de duas moças e espero que o mundo para elas seja mais suave, que possam ser exatamente quem quiserem. Eu estou conseguindo ser quem queria quando menina.
Como vê as seleções que tentam garantir diversidade?
Fazemos parte do movimento Mover, com outras empresas, para trazer lideranças negras, criar espaço para 10 mil líderes negros nos próximos anos. Outro ponto importante é que somos praticamente cem mil funcionários, temos 98 nacionalidades, uma formação também diversa de estudo, de origem. Isso é muito legal, porque traz também muita diversidade.