O final de semana foi de despedida de um gigante das pistas do cavalo crioulo. Vilson Chalart de Souza, 86 anos, escreveu seu nome na história da raça, ao adotar um estilo singular na condução dos animais, que lhe fez acumular premiações e o consagrou como o "ginete do século". Faleceu no sábado (05), em decorrência de uma pneumonia. Foi sepultado em Bagé, na Campanha, onde vivia. Deixa um casal de filhos e um neto.
– Aos olhos dos admiradores era um “centauro”, um ícone, alguém que inspirou uma geração, que ajudou na evolução da raça que mais cresce no país. Mas foi, além de tudo, meu avô e pai ao mesmo tempo – escreveu o neto Pablo Alves, com quem o avô morava.
Pablo também é curador do livro Coração de Cavaleiro – a Arte de Vilson Souza, que conta a história do ginete e acaba de ser concluído.
— Ele revolucionou a relação do homem com o cavalo. Primeiro, porque tinha um talento natural. E, também, muita capacidade de observação, de aprendizado. Ele passava para o cavalo leveza e, ao mesmo tempo, tinha muita habilidade — resume Renato Dalto, jornalista que acompanha a trajetória do cavalo crioulo e autor da biografia.
A obra conta a história desse ícone das pistas, a partir das memórias do próprio ginete e de depoimentos coletados ao longo de um ano. Ao unir as escolas do cavalo de carreira, a equitação clássica e militar, formou um estilo único, criando parâmetros que seguem nas pistas do Freio de Ouro, principal competição da raça, organizada pela Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC).
Vilson foi o primeiro vencedor da prova, em 1982, montando o cavalo Itaí Tupambaé, primeira geração da cabanha de igual nome. Ao longo dos 19 anos de carreira, ganhou cinco vezes o Freio de Ouro, quatro o Freio de Prata e duas o Freio de Bronze. Foi com o segundo lugar no pódio que encerrou sua trajetória como competidor das provas do cavalo crioulo, em 2001, aos 69 anos.
O troféu entregue anualmente aos competidores de destaque no circuito da prova leva seu nome desde 2006. E, em 2017, participou do desfile de comemoração dos 85 anos da ABCCC, quando recebeu o prêmio Alexandre Crespo - Que Momento, concedido aos que deixaram sua contribuição à raça. No ano passado, ganhou uma exposição, em Bagé, que contava sua trajetória e também teve o título Ginete do Século colocado na parede da fama, no parque Assis Brasil, em Esteio.
Na última conversa com o ginete, Dalto lembra que Vilson citou uma frase de Donald Noble Marshall, que evidência a paixão pelo cavalo:
— No permitas Dios que me vaya al cielo sin caballos.