Cinco meses depois do registro de nuvens de gafanhotos na vizinha Argentina que levaram ao decreto de emergência fitossanitária na região sul do Brasil, novos grupos detectados pelo Serviço Nacional de Saúde e Segurança Agroalimentar (Senasa) nas localidades de Campo Vieira e Itacaruaré, na província de Missiones, reacendem o alerta. Principalmente pela curta distância em relação à cidade de Porto Xavier, no noroeste gaúcho — são cerca de 20 quilômetros. Nesse caso, a preocupação só é amenizada porque o tipo identificado é diferente.
Segundo as autoridades argentinas, tratam-se do gênero Zoniopoda e da espécie Chromacris speciosa, conhecida como gafanhoto-soldado — o adulto macho tem as cores verde e amarelo. Estavam em áreas de ervais. Embora igualmente vorazes, não têm comportamento coletivo, em massas migratórias como o gafanhoto sul-americano (Schistocerca cancellata), que mobilizou técnicos da área de sanidade vegetal dos dois países em junho e que levou à emergência, ainda vigente.
— O estrago que causam também é grande, mas a dispersão é bem menor. Estamos em contato direto com as autoridades do Senasa — reforça Ricardo Felicetti, chefe da Divisão de Defesa Vegetal da Secretaria de Agricultura do Estado.
Mas e o que aconteceu com os gafanhotos sul-americanos, que impressionaram pela quantidade de animais e pela grande velocidade de deslocamento? O principal temor era com a formação de novos agrupamentos, o que não ocorreu até o momento.
— Filhos daquelas nuvens não viriam agora — explica o entomologista Jerson Gues, coordenador do Laboratório de Manejo de Pragas Integradas da UFSM.
A afirmação vem em razão do prazo decorrido e do ciclo de desenvolvimento do inseto, que leva cerca de 60 dias até chegar à fase adulta. Ou seja, eventuais ovos depositados nos momentos de pouso já teriam resultado em gafanhotos adultos há mais tempo. E quais as razões para o "desparecimento" das temidas nuvens? Algumas hipóteses são consideradas pelos especialistas.
— Os argentinos fizeram um gigantesco movimento para controle. Isso resultou em redução da população. Outro fator apontado por um pesquisador argentino é que a região onde foram detectadas as nuvens é muito alagada. O inseto ovipositou no solo, mas o sucesso do crescimento dessas populações não se efetivou — pondera Guedes.
Jairo Carbonari, chefe do Departamento de Defesa Agropecuária da superintendência regional do Ministério da Agricultura no Estado, também credita ao controle feito a extinção daquelas nuvens que estavam próximas ao RS e ao Uruguai:
— O que tem hoje são algumas nuvens da mesma espécie no interior da Argentina, como sempre acontece, sem nenhum risco de aproximação.
De toda forma, as equipes seguem atentas e a orientação é para contato com as autoridades sanitárias caso haja algum registro de entrada de gafanhotos.