O nível de comprometimento dos recursos disponíveis levou o BNDES a anunciar a suspensão de mais uma linha de crédito que compõe o pacote do Plano Safra. Até segunda ordem, o Programa para Construção e Ampliação de Armazéns com taxa de juro de 6% ao ano fica sem poder ser acessados. Situação semelhante a de outros cinco programas: Inovagro, Moderagro, Pronamp Investimento, Pronaf Investimento (com taxa de juro de 4%), Pronaf Tratores e Colheitadeiras e Moderfrota.
A preocupação do setor agropecuário com a falta de dinheiro cresce por dois motivos. O primeiro é que ainda faltam oito meses para acabar este Plano Safra – que vai até junho de 2021. Segundo, porque não há sinalização de remanejamento para contemplar a demanda.
– A armazenagem é uma ferramenta fundamental. Sempre que você não tem isso, demanda mais porto, estrada, caminhões, outras estruturas – avalia Roges Pagnussat, presidente da Associação das Empresas Cerealistas (Acergs).
Vendo no Moderfrota uma linha fundamental para o setor, Claudio Bier, presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do Estado (Simers) também demonstra preocupação:
– Pedíamos que não faltasse dinheiro. Esse para e arranca é muito ruim para as fábricas.
Em entrevista à coluna, Rômulo Bastos Dias, gerente do Departamento de Canais de Distribuição e Parcerias da Área de Operações e Canais Digitais do BNDES, disse que “a ideia é que se consiga reabrir o quanto antes” os programas, sem projetar uma data específica.
A parada feita tem por objetivo fazer uma revisão dos valores atingidos, uma espécie de pente-fino, já que há situações como a de cancelamento de contratos.
A bandeira amarela levantou quando se chegou à marca de cerca de 80% dos recursos disponibilizados. Quando forem retomados os programas, o limite passam a ser os 20% restantes. Na prática, significa que não devem ter duração muito longa.
O esgotamento dos volumes liberados antes do término do Plano Safra não é exatamente uma novidade, mas costumava acontecer bem mais para frente. A velocidade em que se chegou a esse comprometimento é o que impressiona e chama a atenção. Para Tiago Luiz Peroba, chefe do Departamento de Clientes e Relacionamento Institucional da Área de Operações e Canais Digitais do BNDES dois fatores podem ajudar a explicar essa corrida pela crédito: demanda reprimida e variação cambial.
– No final de março, as principais linhas (ainda no Plano Safra anterior) estavam esgotadas. Além disso, o câmbio obviamente incentiva o produtor a investir na produção – explica.
No início do ano, o BNDES lançou programa próprio de crédito rural, com taxa pré-fixada e independente de equalização do governo federal. Complementar, tem tido demanda forte, segundo Peroba. E o orçamento previsto (R$ 1,1 bilhão neste ciclo), pode ser ajustado, se necessário.
Por nota, o Ministério da Agricultura informou que “há ainda disponibilidade de crédito dentro dos limites de recursos programados no Plano Safra”.