Em maior ou menor grau, o advento da pandemia marcará também um novo capítulo na atividade do agronegócio.
É o da aceleração e da consolidação da digitalização. Que veio para ficar e é comparável à revolução causada com o advento da biotecnologia. E, como tal, traz desafios e particularidades.
– Um grande tema que a digitalização traz, que a pandemia trouxe é o de “desintermediação”. Conseguir se aproximar e cortar elos da cadeia. E se relacionar com o cliente do seu cliente, com o fornecedor do seu fornecedor, e, com isso, ter contato direto. Esse é um assunto que deve crescer muito daqui para a frente – observou Nelson Ferreira, sócio sênior da McKinsey, líder da prática Agricultura e Químicos na América Latina, um dos participantes do RBS Talks.
O evento, realizado ontem pelo Grupo RBS, tinha como ponto de partida a pesquisa da consultoria A Mente do Agricultor Brasileiro na Era Digital, que evidenciou ainda antes da chegada do coronavírus a transformação no setor decorrente do uso das inovações tecnológicas. Um novo levantamento será feito para comparação do cenário da digitalização da agropecuária antes e depois da pandemia.
Um dos pontos mapeados na primeira pesquisa é o de que o produtor brasileiro compra mais online do que o americano – 36% contra 24%. No Sul, ainda que o percentual seja menor, fica acima do verificado nos EUA. E a estimativa é de que tenha dado um salto “gigantesco” no período de distanciamento, porque, muitas vezes, a única opção para a aquisição era via plataforma digital. Nos Estados Unidos, o número dobrou, mostram dados já apurados.
– Provavelmente veremos esse fenômeno no Brasil, e nossa hipótese é de que dificilmente se voltará aos patamares de antes – observou Sérgio Canova, sócio da McKinsey, líder da atuação no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Na prática, a pandemia despertou o interesse para ferramentas que já existiam, mas nem sempre eram utilizadas. Presidente da Cotrijal, Nei César Mânica citou a comemoração dos 63 anos da cooperativa, toda feita de forma virtual. Ele lembrou, no entanto, de um dos gargalos existentes para a adesão de produtores:
– Temos problema de conectividade nas propriedades.
Pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária e professor da Unicamp, Edson Bolfe observou que a agricultura digital não está só “dentro da porteira”, envolve o antes e o pós-produção:
– Pega vários setores e diferentes perfis produtivos.
Levantamento da Embrapa em parceria com o Inpe e o Sebrae, de abril a junho, apontou que 45% dos produtores já compra ou venda via plataformas virtuais.
– As inovações, as tecnologias no agronegócio sempre existiram e, agora, estão acontecendo de forma muito mais intensa. Um ponto a se pensar é como será a difusão, porque elas chegam de várias frentes – pontua Frederico Logemann, head de Inovação, Estratégia e Relações com Investidores da SLC Agrícola.