A pandemia de coronavírus deverá acelerar o processo de digitalização na agricultura brasileira. O avanço da adoção de tecnologia nas propriedades rurais e as tendências que vêm despontando entre os agricultores na hora de fazer a gestão da atividade foram temas debatidos no webinar RBS Talks, realizado nesta terça-feira (6). A discussão teve como ponto de partida os resultados do estudo “A mente do agricultor brasileiro na era digital”, realizado pela consultoria McKinsey & Company.
Mediado pela colunista de GZH Gisele Loeblein, o painel virtual começou com a apresentação do estudo da McKinsey. O levantamento com a participação de 750 agricultores em 11 Estados, incluindo o Rio Grande do Sul, foi elaborado em janeiro e já mostrava o avanço da tecnologia no cotidiano dos produtores brasileiros.
Na ocasião, 71% dos entrevistados apontaram que usavam canais digitais diariamente para tratar de questões relacionadas à propriedade e 36% costumavam realizar compras online. O sócio sênior da McKinsey, Nelson Ferreira, lembra que o processo de digitalização é puxado por uma geração mais jovem de produtores, que está começando a ingressar na gestão dos estabelecimentos.
— O apetite por digitalização já era premente antes da pandemia. A pandemia só fez acelerar essa tendência bastante clara — enfatiza Ferreira.
Neste sentido, o sócio da McKinsey e líder na Região Sul, Sergio Canova, acredita que já há um salto no número de produtores que realizam compras online. Isso porque as restrições impostas pela pandemia de coronavírus levaram à intensificação do uso de plataformas digitais para a aquisição de insumos. Ainda assim, são detectados alguns gargalos a serem superados. Uma das barreiras é a infraestrutura digital no Brasil.
— Muitos produtores têm internet na sede da fazenda, mas não nas lavouras, o que impacta a implementação da agricultura de precisão — constata Canova.
Na sequência do seminário virtual, lideranças do agronegócio brasileiro participaram do debate sobre as mudanças que vem ocorrendo no setor e os desafios para os próximos anos. O head de inovação, estratégia e relações com investidores da SLC Agrícola, Frederico Logemann, diz que a empresa está trabalhando para garantir conectividade em todas as 16 fazendas no país, usando inteligência artificial para otimizar a tomada de decisões, como a escolha de sementes, e acompanhar detalhadamente o desenvolvimento das lavouras.
— A inovação e a tecnologia agora vêm de todos os lugares, não só com grandes players. Muitas das soluções que estão adotando vêm de startups — aponta Logemann, enfatizando que o processo requer a criação de novas funções profissionais nas propriedades.
O presidente da cooperativa gaúcha Cotrijal e idealizador da Expodireto, Nei Mânica, lembra que o produtor do Sul costuma ser mais conservador que a média nacional quando o assunto é tecnologia. No entanto, o dirigente ressalta que a inovação exerce um papel fundamental para garantir a permanência dos jovens no campo e possibilitar a sucessão. Além disso, tendências verificadas na pandemia, como a realização de eventos digitais, devem ficar de legado para as feiras agrícolas.
— Temos certeza que as exposições e o relacionamento presencial não vão desaparecer, mas vão caminhar juntos (com atrações digitais). Hoje, você pode ter um palestrante em qualquer lugar do mundo. A pandemia nos mostrou coisas importantes para ganhar tempo, economizar dinheiro e ganharmos em qualidade — afirma.
De acordo com a pesquisa da McKinsey, 53% dos agricultores brasileiros adotam ou pretende utilizar alguma tecnologia de agricultura de precisão. Nesta linha, o pesquisador em geoprocessamento e sensoriamento remoto da Embrapa Edson Bolfe enfatiza o papel do uso de drones e satélites para monitorar o que acontece dentro da porteira.
— Estamos colocando uma lente nos olhos do produtor, com satélite e drones. Isso amplifica a visão e qualidade da informação que chega ao produtor rural — indica.