Piloto profissional da aviação agrícola há 14 anos, o porto-alegrense Camilo de Freitas Flores divide a rotina de trabalho em dois momentos ao longo do ano. No período de safra, realiza a tarefa de pulverização área em lavouras. Na entressafra, é contratado por empresa especializada no combate de incêndios em áreas atingidas por queimadas, como o Pantanal. Ele esteve durante 15 dias na operação que tenta conter as chamas que vêm destruindo áreas significativas do bioma. O trabalho pesado, que tem como objetivo fazer o resfriamento, pelo ar, para que a equipe em terra possa chegar aos focos, exige o revezamento e o prazo de permanência limitado.
Atuou na região de Porto Jofre, que fica no município de Poconé, em Mato Grosso. E conta um pouco da rotina no período em que esteve no local — ele retornou ao Estado há cinco dias — e da perplexidade com a dimensão dos estragos causados pelo fogo.
— Nunca tinha visto nada nessas proporções — conta Camilo, que acumula sete anos de experiência nessa atividade específica de controle de incêndio.
Abaixo, trechos dos relatos feitos à coluna.
Rotina diária
O limite diário são nove horas de voo. O trabalho de combate ao incêndio é em equipe: os pilotos fazem o lançamento de água para resfriar as áreas com fogo, sob orientação e para que a equipe em terra, incluindo Bombeiros, consiga chegar ao local do foco. São necessárias condições mínimas de visibilidade para que o piloto possa voar.
— Na primeira luz do dia, já estamos à disposição de quem estiver no controle da situação e ficamos no aguardo — conta Camilo de Freitas Flores, 39 anos.
A aeronave
Conforme o Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), as aeronaves utilizadas no combate de incêndio são do mesmo tipo que realiza a pulverização agrícola. Com algumas diferenças. Há exigência de capacidade mínima de armazenamento. E a comporta existente na "barriga" do aparelho por vezes pe substituída por uma hidráulica, que permite abrir, fechar e regular a abertura.
— A aeronave vai carregada de água, de 2 mil a 3 mil litros, varia muito de acordo com o tipo de vegetação e de lançamento necessário — explica o piloto gaúcho.
Visibilidade e a temperatura
O trabalho no ar é feito com temperaturas em torno de 43ºC — no foco, na linha de combate, os termômetros vão bem além. A fumaça também dificulta a visibilidade. As condições climáticas são pré-requisito para que se possa voar.
— Chegamos a ficar dois seguidos sem voar — conta Camilo.
Dentro da fumaça
A abrangência da área atingida pelo fogo e da fumaça pelo caminho impressionaram Camilo, que afirma:
— Nunca tinha visto nada nessas proporções. É um cenário de guerra.
No período em que esteve no Pantanal, o piloto precisou fazer uma viagem, para a manutenção da aeronave, até Primavera do Leste. Conta que andou, durante 1h10min "dentro da fumaça":
— Tu voa nos limites operacionais e só por cima de área queimada.