Problema recorrente entre 2018 e 2019, alvo de inquérito civil aberto pelo Ministério Público do Estado (MP), a mortandade de abelhas voltou a ser registrada no Rio Grande do Sul. Nos últimos 10 dias, foram quatro episódios em três propriedades localizadas nos municípios de São Gabriel e Santa Margarida do Sul, na Fronteira Oeste. Um deles atingiu colmeias Aldo Machado dos Santos, presidente da Cooperativa Apícola do Pampa Gaúcho (Cooapampa), também coordenador da comissão Apícola da Federação da Agricultura (Farsul) e da Câmara Setorial de Apicultura da Secretaria da Agricultura. Ele esteve nos locais em que as mortes foram detectadas. Um dos produtores teve duas ocorrência nesse intervalo de tempo.
Santos contabiliza pelo menos 170 colmeias afetadas. Como nesta época do ano cada uma costuma ter cerca de 50 mil abelhas, o total de insetos mortos pode chegar a 8,5 milhões. Um prejuízo estimado em R$ 810 por caixa perdida.
— Agora tem muitas flores no campo, como a do nabo forrageiro. E como é uma época de escassez de alimento para as abelhas, elas vão longe para procurar, no mínimo de 3 quilômetros dos apiários — explica o produtor e dirigente.
A suspeita recai sobre o uso de inseticidas, na preparação do terreno para as lavouras de verão em áreas próximas às colmeias. Além do fipronil, cuja presença foi confirmada em amostras coletadas pela Secretaria da Agricultura no ano passado, outros inseticidas utilizados com produtos para dessecação (controle de ervas daninhas) são apontados como potenciais causadores das mortes. A Defesa Sanitária foi acionada para a coleta que permitirá análise em laboratório dos insetos mortos.
— O que a gente percebe é que a coisa vem se repetindo — observa Aroni Sattler, professor de Apicultura da UFRGS, que soma outros cinco registros desde março.
Ele e a professora Betina Blochtein, da PUCRS, apresentaram em audiência do Ministério Público, realizada na semana passada, um projeto de monitoramento das abelhas em tempo real. A ideia agradou e agora busca-se viabilizar financeiramente a iniciativa. Conforme o promotor Alexandre Saltz, "isso tudo está acontecendo dentro do inquérito" instaurado.
—A ideia é trabalhar com apicultura fixa e migratória. Em cada local coletamos amostras. Montaremos com os produtores apiários de observação. A plataforma estará processando e disponibilizando os dado para todos segmentos interessados — explica Sattler.
O objetivo é ter um acompanhamento em tempo integral, para evitar estar sempre "correndo para apagara incêndio". A expectativa é de que, entre 60 e 90 dias já poder estar com boa parte do sistema já instalada.
No ano passado, laudos de coletas feitas por técnicos da Secretaria da Agricultura em 32 municípios gaúchos indicaram que, de 43 amostras de abelhas mortas analisadas, havia presença de agrotóxicos em 38, o equivalente a 88%. Entre os casos positivos, 36% eram do princípio ativo fipronil.